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1724- Inteligência artificial, convergência oficial? (Parte 2)

As experiências de fato vivenciadas se somam, se multiplicam, ao mesmo tempo em que opiniões se dividem. O inexorável passar do tempo provoca inevitáveis vaivéns sobre a inteligência artificial complementar ou competir com os profissionais da saúde, sobre limitações e expansões deste encontro da indústria nascente no âmbito da conexão, sempre lembrando que a diversidade de apreciação será uma constante, quer por idiossincrasias, quer por influências socioculturais.

É preciso que a área da saúde esteja bem consciente dos propósitos pretendidos sobre corpo e mente da renovação tecnologicamente sustentada pela máquina que aprende e reaprende, ensina e reensina, ajusta e aprimora, bem como sobre evidências de reais impactos na qualidade de vida e na sobrevida e se eles são de fato o que a sociedade deseja na referida conexão, considerando a imensa pluralidade de circunstâncias que abrange desde o pré-natal até o post-mortem. O Homo sapiens como criador e criatura da inteligência artificial perante o seu potencial para otimizar os cuidados com as necessidades de saúde à medida que supera barreiras naturais.

Lembrando Clarice Lispector (1920-1977), que afirmou que o óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar, o exercício da medicina requer a participação de agentes inteligentes que de modo eficaz e efetivo incorporam tecnociência e humanismo e que se associam em atuações de equipe multiprofissional e transdisciplinar de forma coordenada e cooperativa frente a  desafios diagnósticos, terapêuticos e preventivos, articulando iniciativas autônomas  como a valorização da prudência na tomada de decisão e do zelo na aplicação do consentido, e cumprimentos de deveres heteronômicos, como os estabelecidos pela medicina baseada em evidências. Cada agente inteligente tem compromissos éticos, morais e legais, com o rigor e a complexidade e valem-se da memória forjada pela experiência para sustentar a imaginação acerca da beneficência e da não maleficência diante de cada novo caso análogo a ser cuidado, habitualmente, de forma dinâmica e pleno de incertezas e imprevisibilidades.

Melhorar sempre é bandeira de nascença da medicina. Cada avanço na beneficência, contudo, traz consigo potencialidade maleficente. Voluntários de pesquisa cooperam para prover maior segurança às inovações, demonstrar  superioridades substitutivas que sustentem a validação para uso em pacientes, bem como revelar adversidades, muito embora o cenário só fique mais nítido na chamada fase de mercado, no mundo real dos (a)casos da beira do leito, associações  infinitas de controles e descontroles, cada vez mais frequentes, inclusive pela maior expectativa de vida do brasileiro (a) e maior chance de acúmulo de comorbidades.

Hipócrates (460aC-370aC) retirou a medicina dos deuses gregos e colocou na mão dos humanos, um humano cuidando da saúde de outro humano, desde então. Vale dizer, ele substituiu a inteligência divina de uma medicina pré-humana  pela inteligência humana. Inaugurou o conceito de algoritmo na medicina ao estabelecer algumas sequências para resolver certo problema.  Já de início, Hipócrates percebeu que era essencial que o atendimento ao paciente fosse uma continuidade de  confiança na confidencialidade do seu médico, que o paciente podia revelar o que fosse que ficaria tão somente entre eles, caso não houvesse autorização explícita para a revelação a terceiros. O sigilo profissional na medicina dura, pois, 25 séculos, ele é condição pétrea, por isso, o futuro da inteligência artificial passa pelo máximo respeito ao mesmo. Outro aspecto da sequência “algorítmica” hipocrática foi a recomendação para não enveredar por caminhos desconhecidos sobre reais benefícios, especialmente, para evitar danos que assim mais agravassem a situação clínica e que ficou conhecido como “non nocere”, outro forte aspecto da apreciação crítica sobre a inteligência artificial na área da saúde.

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