Aprendi outro dia porque algumas frutas como a banana amadurecem após serem colhidas e outras como a uva precisam ser colhidas no tempo certo porque não amadurecem depois. A causa é um “mensageiro químico” chamado etileno que precisa ser liberado em quantidade suficiente para prover o amadurecimento fora da árvore. Pela sabedoria da natureza, o amadurecimento, a mudança de cor, a liberação de aroma estimulam o consumo e fazem as sementes terem oportunidade de se individualizarem no ambiente, dispersarem e criar novas frutas.
A Bioética da Beira do leito entende útil o desenvolvimento de analogias com saberes distintos como os proporcionados pela natureza, considerando que a beira do leito é um ecossistema que inclui bióticos como os profissionais da saúde e abióticos como os métodos tecnocientíficos validados e disponíveis. Neste contexto de mensageiro, é estimulante comparar o etileno à Bioética, fonte preciosa para o amadurecimento do médico(a) e profissionais da saúde em geral após terem sido “colhidos” da graduação e necessitados de mudanças evolutivas para obter mais qualidade profissional, inclusive como exemplo para os colegas dentro do conceito que uma geração educa a próxima.
A referência moral que associa promoção de bem-estar e respeito a regras conhecida como principialismo em Bioética inclui quatro princípios, numa associação entre compromisso com a dignidade do paciente como sujeito, igualdade de direitos e atenção com respeito, promoção de meios de benefício e evitação de causar malefícios. Cada situação clínica é passível de enfrentar confrontos entre intransigências e justificativas para flexibilização e alinha-se a aceitabilidades de (não) condutas, em meio a prós e contras e sobre as quais não são exigidas etiquetagens de totalmente certo ou totalmente errado.
A pluralidade de razões e objetivos que habita comumente as conexões médico-pacientes faz vantajoso o uso da interação entre os princípios da Bioética, torna-a valioso fio condutor para deliberações, especialmente, porque os impactos são de natureza multidimensional. No mundo real dos processos de tomada de decisão atua uma mescla de complexidades da tecnociência, idiossincrasias do ser humano, lógica do terceiro incluído que coloca, por exemplo, numa bula que mesmo medicamento tem o potencial tanto do bem quanto do mal, efeitos antagônicos da memória e da imaginação sobre o par otimismo – pessimismo, abertura para o desconhecido e o imprevisível e tolerância a opiniões divergentes.
A Bioética principialista em consonância com a figura do etileno, “o mensageiro do amadurecimento” pode ser dividida em dois compartimentos como catalisadora de providências de aperfeiçoamento profissional. O primeiro é composto pela beneficência e a não maleficência e o segundo pela autonomia.