A vivência de uma consciente progressão para a morte no curto prazo face ao avanço de uma doença que atingiu efeitos irreversíveis pela medicina gera em pacientes pensamentos em feedback com a incapacidade de uma solução favorável à saúde, razão para tomadas de decisão de natureza niilista, ou seja, a manifestação de dispensa de certos métodos de suporte de vida.
Na prática, comporta-se como um não consentimento à introdução dos mesmos, de maneira livre e respaldada pelo direito ao princípio da autonomia, dentro do espírito de uma decisão compartilhada no planejamento de condutas na beira do leito. Há um prazo para os diálogos, para a finalização, pois os pensamentos não podem ficar em loop sem uma definição.
Outros comportamentos a serem considerados no cotidiano da situação dizem respeito à solicitação pelo médico do consentimento do paciente/responsável indicado para suspensão de um método e ao fornecimento de esclarecimentos sobre não iniciativa médica de introdução do que será fútil para o caso sob decretação de cuidados paliativos.
A Bioética da Beira do leito enfatiza a necessidade de apreciação abrangente e profunda dos dilemas, desafios e conflitos que se postam no caminho da equipe multiprofissional ao lidar com fronteiras nem sempre claras entre beneficência terapêutica e a definição de cuidado paliativo pela Organização Mundial de Saúde como abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, previne e alivia o sofrimento perante doenças que impedem a continuidade da vida.
As inquietações podem se materializar numa (in)decisão de não introdução de um método – como intubação traqueal, antibioticoterapia, hemodiálise – ou numa (in)decisão sobre suspensão de um método prescrito numa situação distinta da atual, em que o contexto realça desacordos da tecnociência útil num campo restrito com desejos, preferências, objetivos e valores do paciente em fase terminal de doença incurável pela inexorável progressão marcada pelo inexitoso de condutas terapêuticas até então válidas. Prudência e imprudência, zelo e negligência ficam sujeitas a interpretações pendulares e, não infrequente, a inseguranças éticas e legais. Alô Bioética!