Por isso, a demonização do comportamento do médico rotulado como paternalista foi rapidamente ajustada pela adjetivação diferenciadora. Reprovável é o paternalismo, o forte, coercitivo, proibitivo que, autoritário, desrespeita o direito do paciente de exercer o princípio da autonomia, a possibilidade de ter voz ativa no processo de tomada de decisão sobre a própria saúde.
Já o paternalismo, o brando, alinha-se à sensibilidade humana do médico, que empenha-se em compreender razões para reações discordantes/hesitantes do paciente e, atencioso, dedica um tempo qualitativo apesar da habitual escassez de tempo quantitativo, para reesclarecimentos. O paternalismo, o brando é, pois, o avesso de uma reprovável indiferença motivada por comportamentos e atitudes dissonantes da díade médico-medicina.
É interessante pensar que a tríade médico-paciente-medicina é uma mistura, pois são três diferentes reunidos que não perdem suas individualidades. O ideal é quando a mistura se faz homogênea, é um uníssono, ou seja o objetivo da tríade médico-paciente-medicina sendo a obtenção de uma mistura a mais homogênea. Aplicando recursos da medicina, o médico diagnostica uma infecção e prescreve um antibiótico que se envolve com o agente infeccioso presente no paciente e realiza seus efeitos terapêuticos. Trata-se de uma mistura classificável como homogênea. Por outro lado, inabilidades do médico, carências/adversidades da medicina e peculiaridades do paciente podem resultar em misturas entendidas como heterogêneas. A Bioética não necessariamente objetiva perfeita homogeneização, mas que as heterogeneidades constituam-se de tal sorte que os componentes fiquem sem maiores diferenças explícitas no contexto geral, qual mistura coloidal de sangue ou leite.
São exemplos de momentos água e óleo ou de óleos com densidades diferentes na beira do leito em que a Bioética pode ser contributiva:
- Transfusão de sangue e paciente Testemunha de Jeová
- Recusa do paciente de ser examinado/consultado por um Residente de medicina
- Insistência do paciente para que o médico prescreva o que “aprendeu” navegando na internet
- Fronteira sombria entre dever terapêutico e obstinação terapêutica
- Recusa por discordância do Residente de medicina aplicar o método ordenado pelo superior hierárquico
- Não aceitação pelos pais da convicção pelo médico que o filho é um adolescente amadurecido
- Contraposições entre paciente e familiares interferindo na aplicação da conduta
- Contraposições entre gestão hospitalar e assistência na beira do leito