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1683- Linguagem (Parte 2)

Embora os termos beneficência e não maleficência sejam modernos, eles compõem a medicina desde Hipócrates (460 aC – 370 aC) e  interpretados segundo teorizações universais ou percebidos individualmente sob efeitos de impactos culturais, sociais e econômicos. A atualíssima classificação de utilidade e eficácia IA em recomendações de diretrizes pode significar potencial de benefício – evidências em pesquisas que sustentam imaginar reproduções assistenciais -, crença num benefício – animar-se com a chance ou fé num benefício – já mentalizar o efeito realizado.

Os pontos de referência para misturas de potencial, crença e fé são variáveis e volúveis numa conexão médico-paciente/familiar e as realidades do efeito placebo são altamente didáticas para alertar para como é impossível fazer definições rígidas sobre limites entre terapêutica e paliação ou dever terapêutico e obstinação terapêutica, bem como sobre objeções de consciência.

A Bioética da Beira do leito interessa-se por estes aspectos da relação sons-sentidos por entender que impactam fortemente no processo de consentimento para recomendações médicas pelo paciente capaz em tomadas de decisão sobre sua saúde, alinhado ao respeito à pessoa, ao direito ao princípio da autonomia, vale dizer, garantia à voz ativa de Sim, consinto doutor ou Não consinto, doutor.  O teórico “bom para quem” para a medicina não infrequente não é “bom” na prática ou para o médico  – qualidade do instrumento e qualificação individual – ou para o paciente – contraindicação circunstancial.  


No diálogo médico-paciente manifestado no  processo de tomada de decisão no ecossistema da beira do leito, mesmo que as palavras utilizadas sigam seus significados comuns, não pode ser ignorado que cada uma das palavras ditas têm o potencial de conter alguma peculiaridade da mente do emissor que pode nem ser exatamente universal, nem ser do mesmo teor no interlocutor. Por isso, não basta falar e ouvir, é necessário ouvir-se falar e ouvir-se ouvir.

O paciente emissor pode, por exemplo, determinar o que ele próprio entende como significado afetivo de uma palavra, de uma expressão, numa adequação circunstancial da palavra. A palavra cirurgia pode expressar uma memória da experiência e uma imaginação de benefício para o médico, ao mesmo tempo que pode se articular com uma memória de malefício e uma imaginação de dano pelo paciente, embora  sobre mesmos dados e fatos, inclusive em situações de “tranquilidade prognóstica” por uma boa relação risco-benefício.

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