As evidências tecnocientíficas constituem um poder nutrício para a sociedade, ou seja nutrem a população a reboque de uma nobre missão comprometida em promover bem-estar, a ser cumprida por quem se assume com responsabilidade de atender às necessidades de saúde. Elas não deixam de ser material didático para um exercício de ensino que alia um poder integrador ao poder nutrício, associação que engrandece a conexão médico-paciente na medida em que pares de tese-antítese promovem renovações de sínteses.
A expectativa de vida da população mundial e a do brasileiro em especial cresceu no século XX e, espera-se que o século XXI seja igualmente generoso neste aspecto. Vacinas e antibióticos são fatores históricos da elevação do número de anos de vida, enquanto que a pandemia Covid-19 provocou um efeito inverso.
A Bioética da Beira do leito entende que estes três fatores ao comungar a presença etiopatogênica de microorganismos na natureza e lembrar que eles resistem e se adaptam por mutações, assim persistindo etiopatogenias em potencial em nome de agressão/resistência/mudança, alertam o ser humano sobre a conveniência/utilidade da mais adequada preservação das forças interiores do corpo com base nesta tríade, vale dizer, não se agredir, resistir ao canto das sereis de certas zonas de conforto e admitir para si mesmo mudanças.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que mudar hábitos, fazer o até então impensável, é complexo, não basta a informação, a conscientização da beneficência. Descolonizar o danoso para corpo e mente e reconstruir num modelo de idealidade exige o que pode ser sintetizado no termo força de vontade (desejo+movimento), um guarda-chuva de energia psíquica que abriga responsabilidade, credibilidade e prudência. Mudanças radicais passam por “torturas” e privações e suas sobrevivências/persistências requerem espíritos de resiliência de faquir e de monge.
O foco para intervenções descolonizadoras e reconstrutivas é o par etiopatogenia- decorrente fisiopatologia numa perspectiva de prevenção, quer primária, quer secundária. Inclui evitar o evitável e não agravar morbidades. Métodos disponíveis porque validados por evidências tecnocientíficas necessitam não somente enquadrarem-se no princípio da Bioética denominado de beneficência – potencial de utilidade e eficácia – como também satisfazerem ao máximo o princípio da não maleficência.
Em outras palavras, decisões para aplicação devem apreciar não apenas o benefício mas também individualidades do receptor que poderiam desaconselhar o uso, ou seja condutas recomendáveis universalmente precisam se tornar condutas aplicáveis individualmente. A receptividade humana a amputar um membro, amputar um prazer, amputar uma fonte econômica em razão do par etiopatogenia-fisiopatologia é altamente idiossincrásica.