Assim, a atenção à privacidade mental da pessoa - que é um atual ou um futuro paciente - no âmbito da saúde colabora para a evitação de influências desqualificadas contaminadoras dos processos de liberdade cognitiva, essencial para que cada um possa vir a se comportar como "ele mesmo". Acontece que a facilidade proporcionada pelo "mundo conectado de fácil acesso à tecnologia da internet, pelo potencial de ouvir opiniões de outros, perturbam a concentração ideal do atendimento no ambiente qualificado da medicina. Não faltam pacientes que chegam ao médico para "conferir o que já sabem, instruídos pelo cursinho de cinco minutos", entendendo suficientes para até superar os 5259600 minutos referentes a seis anos de graduação em medicina + quatro de residência médica.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que médico - possuidor de saberes específicos - e paciente - leigo - são representantes de duas comunidades de interpretação que precisam dialogar para, efetivamente/autenticamente/empaticamente, se compreenderem e interagirem. Cada partícipe em ambas situações têm personalidade, caráter e temperamento, uma tríade que confere identidade própria às normas morais e aos aspectos culturais.
O zelo com a prudência na invasão profissional justificada na privacidade mental do paciente que irá sustentar o (não)consentimento num processo de tomada de decisão segundo liberdade cognitiva será tanto mais eficiente quanto mais houver por parte do médico a legítima preservação dos limites éticos nos esclarecimentos sobre a doença, sobre o prognóstico natural e pós-tratamento, sobre os objetivos da aplicação dos métodos diagnósticos, terapêuticos e preventivos, sobre os limites da beneficência, sobre as chances de adversidades, sobre as necessidades evolutivas, bem como nos apontamentos de eventuais falsidades de conhecimento apresentadas pelo paciente, por exemplo, induzidas por caprichos do manejo do conteúdo da internet.
A Bioética da Beira do leito entende que o médico-assistente/equipe de saúde que atende ao paciente é o mais adequado interlocutor e orientador e, por isso, reforça o valor da progressiva imersão do médico no ecossistema da beira do leito por meio da educação profissional que forja modos de pensar, sentir e atuar em conformidade com objetivos, valores e métodos. É fundamental resguardar a boa qualidade que é atestada pela privilegiada posição do médico no índice de confiança global da população.
A preservação de uma comunidade de interpretação confiável requer capricho no representar a sociedade, o que inclui o máximo nível de respeito com a forma "cirúrgica" com que devem acontecer as indispensáveis invasões na privacidade mental do paciente capaz pelo médico. Aberturas de janelas e portas de entrada que produzam ajustes na atividade cerebral devem prover disseminações respeitosas de esclarecimentos a respeito de necessidades de aplicação de métodos de beneficência e não maleficência, portanto, isentas de juízos de indevidas intromissões.
Assim, como a tecnologia inova mais rápido do que o sistema regulatório pode se adaptar, é comum que a confiança no médico/medicina funcione como eficiente catalizador da premência da manifestação do consentimento pelo paciente sustentado por influências exercidas sobre a privacidade mental.