A Bioética da Beira do leito enfatiza o valor ético/moral/legal participativo da liberdade cognitiva ou autodeterminação mental pelo paciente capaz e em situação de necessidades de saúde isentas de risco iminente de morte evitável. Significa o direito do paciente de, por um lado, se submeter aos métodos beneficentes validados na medicina e ciências da saúde em geral. disponibilizados pelo sistema de saúde e por ele consentidos, e por outro lado, de negar-se à submissão a métodos não desejados. Liberdade rejeita o paternalismo, o forte, coercitivo, mas não o paternalismo, o brando, que demonstra autêntico interesse pela mais adequada tomada de decisão. Em outras palavras, a liberdade cognitiva garante ao paciente capaz o direito à reversão/controle de estados mórbidos bem como de se recusar a fazê-lo, haja vista ser ela entendida como direito humano fundamental, ou seja, fazer valer seus desejos, preferências, objetivos e valores em suas deliberações a respeito das próprias necessidades de saúde. Evidentemente, exceções existem, por exemplo, solicitações inadequadas do paciente que fariam o médico comportar-se de maneira antiética. A Bioética da Beira do leito adverte aos médicos que a liberdade cognitiva do paciente capaz é multidimensional e complexa porque a cognição inclui atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem. Alinha-se às liberdades de pensamento, de expressão, de escolhas, de estar partícipe nos processos de tomada de decisão com um nível de controle, independente da etnia, gênero, religião, ou seja, um direito inalienável para o qual merecer basta ser humano. O direito à liberdade cognitiva do paciente por fazer parte da base do direito de não consentimento a recomendações médicas para si, admite o direito de negar em função de como ele percebe a proposição/a confiança que deposita no sistema, de efeitos da memória (insucessos seus e/ou de terceiros), da imaginação com pessimismo sobre a evolução/maior peso do potencial de adversidades, dos sentidos captados desde a linguagem técnica. A liberdade cognitiva, ao se referir ao princípio da autonomia, admite tanto a autonomia intrínseca ligada ao "autêntico" interior do paciente quanto a autonomia de relação que é influenciada por fontes externas de informação/aconselhamento. A autonomia de relação ampliou-se extraordinariamente com as redes sociais e informações pela internet. O decorrente alto potencial de intrusão da infosfera contemporânea relativa a temas de saúde compete com o saber do médico-assistente nas escolhas efetivadas pelo paciente capaz. De modo ativo ou passivo, informações, por exemplo, disponíveis na internet de certa forma invadem a privacidade mental da população, realizam intromissões que demandam juízo crítico nem sempre passível de ser apoiado por conhecimentos mais sólidos da pessoa, inclusive, as ingerências podem resultar de dados captados e armazenados de si próprio após terem sido manifestados nas redes sociais. Incluem informações com duvidosas qualificações encobertas por subterfúgios de credibilidade e que podem não somente desviar o paciente das escolhas mais adequadas recomendadas pelo médico, como também estimular usos prejudiciais, perdas de oportunidade de beneficência e quiçá futuras etiopatogenias.
1670- Percepção da existência (Parte 2)
As evidências tecnocientíficas constituem um poder