A eficiência da medicina – e das ciências da saúde em geral – no ecossistema da beira do leito em função dos impactos da multiplicidade e diversidade de bióticos – paciente/familiar, médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo, gestor, etc… e da crescente complexidade de abióticos – como os métodos farmacológicos e de imagem – exige responsabilidade profissional alinhada ao equilíbrio entre liberdades – como em relação a opções de atitudes bilaterais no âmbito da conexão médico⇔paciente – e determinações – como associadas às evidências tecnocientíficas beneficentes validadas. Por isso, o jargão utilizado alinhado à responsabilidade profissional do Estou ciente do que faço/fiz/farei costuma ser conduta consentida que mescla determinação tecnocientífica (conduta recomendável/aplicável) com liberdade de aceitação.
Porque todo ato concreto exige uma decisão, é essencial distribuir o acervo da medicina pela tríade formada por indicação, não indicação e contraindicação, ou seja, aplicar, caso a caso, os métodos conforme organizados em diretrizes clínicas e sustentadas por evidências tecnocientíficas qualificadas por senso de utilidade/inutilidade, visão de dispensabilidade/indispensabilidade e entendimento de eficácia/ineficácia na conexão médico⇔paciente e com interdependências ao sistema de saúde. A tríade associa-se a profundos desafios ao senso comum da integração entre devo/posso/quero. Perante um paciente que deve e pode submeter-se a uma indicação médica, mas manifesta que não quer, persiste ainda no pensamento de certo percentual de médicos o dito por François de La Rochefoucauld (1613 – 1680): Não há bom senso em quem não concorda comigo.
Em outras palavras, considerando a integração entre propósito, processo e resultado de condutas médicas, o ideal preenchimento de conexões médico⇔pacientes admite a força realizadora da sensatez que bem distingue quando os momentos devem privilegiar expressões de autonomia e quando é melhor admitir que as instâncias requerem cumprimento da heteronomia.
É ritual clássico que atualmente tem a participação do paciente não somente por suas queixas, sintomas, sinais e relatos evolutivos, mas também pela voz ativa no processo de tomada de decisão, numa ampliação autonômica do envolvimento com a beneficência e a (não)maleficência e, porque não, numa redução de velhas insensibilidades do médico justificadas por “necessidade de serviço” e que, por exemplo, sempre desaconselharam o médico cuidar de familiar.
Ambos polos se organizam um em relação ao outro, conformando-se dialeticamente com relevância em valores próprios e sob linguagem de cunho profissional em que o médico na verdade não ensina quando esclarece o paciente, ele conta a fim de provocar autenticidade afastada de uma “aceitação sem pensar”.