Razão bastante para que a Bioética da Beira do leito entenda que a necessidade de seleções críticas em processos de tomadas de decisão objetivas sem desprezo de subjetividades na beira do leito insere a medicina na concepção de arte que aplica tecnociência. Em termos práticos, motivações e decorrências de atitudes profissionais têm adquirido níveis de relevância equivalentes aos da aplicação dos conhecimentos e da entrega das habilidades na apreciação crítica da competência.
Idealmente, inevitáveis assimetrias de saber entre médico e paciente precisam ser atenuadas pela comunicação entre ambos numa trajetória de objetivos com mútua identificação das necessidades individualizadas de atenção à saúde e mediante pactos a respeito de aplicações e recepções.
O médico consciente que outrora foi um leigo que necessitou de informação para tomar a decisão do momento torna óbvio o compromisso consigo para bem informar o paciente. Por isso, é da ética que o médico não faça sua comunicação ao paciente num modo em que as palavras sobre beneficência sejam 100% de garantia de futura realidade de benefício, inclusive com ajustes esclarecedores a eventuais racionalizações enganadoras criadas na mente do paciente. Estatísticas são bem-vindas porque não somente evitam falsificações de emissão e ds recepção, como também são referências para desenvolver números mais favoráveis de prognóstico.
Caso a caso, desenvolvem-se no médico autoinstruções do mundo real acerca da seleção e da dosagem de informação depreendidas pela continuada busca de efetividade no processo de comunicação com o paciente. Guiadas pela lições fornecidas pelo dito e o não dito, as calibragens do próximo dizer e não dizer sobre probabilidades de distintos ganhos e perdas das possíveis escolhas de conduta sustentam a qualidade da comunicação necessária para que o paciente possa as estimar mais adequadamente. O quantum satis dado pela experiência.
As assimetrias de conhecimento tecnocientífico conjugadas a valores do paciente impõem o juízo que não basta o médico bem informar, é preciso resultar compreensão pelo paciente e alcance das possibilidades a fim de que a sua verbalização do consentimento ou não seja manifestação digna de ser adjetivada como integrada à conduta. Significa o médico disposto a dispêndio de tempo, compaixão, humildade e responsabilidade. Nem sempre fica claro se houve efetiva compreensão ou tão somente a impressão que ela tenha acontecido, porque a medicina está tão complexa que é impossível que uma comunicação em momentos de vulnerabilidade possa realizar todos os desdobramentos previstos pela idealidade. Por isso, o valor de apreender o que é moralmente quantum satis para cada circunstância.