Em outras palavras, o direito do paciente de exercer a autonomia em relação a suas necessidades de saúde inter-relaciona-se com o dever do médico – e sua consciência profissional – de aplicar medicina não somente com competência tecnocientífica, mas também por meio de atitudes acolhedoras em que se incluem as formas mais compreensivas de informar o paciente e de enxergar o paciente como um ser humano. Pensamentos críticos e questionamentos detalhados não significam que inexiste verdades científicas na medicina ou que qualquer opinião possa imperar. A conduta certa a tomar é sempre relativa na conexão medicina⇔médico⇔paciente dada a pluralidade da condição humana.
Uns dizem que um é pouco, dois é bom e três é demais, enquanto que outros afirmam que um é pouco, dois é bom e três é melhor. Valem as dois opiniões para o principialismo da Bioética. A Bioética da Beira do leito enfatiza que exercícios mentais de dispor os três princípios da Bioética beneficência, não maleficência e autonomia numa interligação como um triângulo, caso a caso, costumam ser constructos de ajustes que, menos frequente, resultam num triângulo equilátero.
Dificuldades expressivas em finalizações de decisão no ecossistema da beira do leito decorrem dos efeitos de tensões entre os princípios da Bioética e que podem ser mentalizados e modo mais radical na expressão de um triângulo do tipo escaleno. A figura consiste no ângulo de visão da autonomia (pelo paciente) mais afastado do ângulo de visão da beneficência (pelo médico) e mais próximo do ângulo de visão da (não) maleficência (pelo paciente). Em termos práticos, no caso ilustrativo acima, FCT distanciou-se da utilidade da prescrição médica pela maior proximidade com o efeito adverso da bula do medicamento.
O decorrente não consentimento à recomendação beneficente pelo receio do malefício, ou seja, o exterior não configurou-se interior, conotando um “triângulo escaleno”, tanto imobiliza o efeito tecnocientífico correto pretendido pelo médico quanto, idealmente, deve mobilizar o profissionalismo no sentido da disposição para tentar reverter a negativa/avaliar adaptações ao planejamento dentro de possibilidades. Um complicador é que quebras do fluxo rotineiro exigem dispêndio de tempo – um bem sempre escasso – e vivência profissional com crítica reconstrutiva.