3831

PUBLICAÇÕES DESDE 2014

1639- Autonomia e heteronomia no ecossistema da beira do leito (Parte 5)

Bioamigo, seres humanos são biografias em construção. É correto dizer que cada um é o próprio autor. A liberdade dos movimentos da vida ajustada ao discernimento e ao esforço é tolhida por várias circunstâncias e uma delas refere-se a questões de saúde que comumente contribuem com preenchimentos biográficos marcantes, haja vista que a medicina exerce influências pessoais, sociais (como a medicalização da vida) e culturais. Ao contrário do escrever sobre um tema que é um exercício de alteridade porque o autor tenta se colocar na pele do outro, a continuada elaboração in vivo da autobiografia é um exercício de sobrevivência.

Há infinitas menções cabíveis sobre a medicina, uma delas é afirmar que tanto pela terapêutica quanto pela prevenção faz parte de todas as biografias. Se houver exceções, são para confirmar a regra. Um dos aspectos que diferenciam as inclusões é o quanto e como alguém tem o seu contínuo biográfico envolvido pela medicina. Capítulos separados organizam-se tendo Prontuário do paciente como títulos.

O desenvolvimento da medicina catalogou sintomas, identificou sinais, constituiu síndromes, nomeou doenças, descobriu e inventou métodos diagnósticos, terapêuticos e preventivos, organizou códigos de ética. A função e a sobrevivência da medicina reforçaram-se interligadas à existência da conexão médico-paciente, um vínculo entre dois humanos sobre os quais é difícil ter certeza de quem veio primeiro, qual o ovo ou a galinha, e cuja qualidade de convivência está intimamente alinhada ao falar (o que deve ser ouvido), ao ouvir (simplesmente ouça), ao ouvir-se falar (para ser direto, relevante, respeitoso e não exagerado no tempo) e ao ouvir-se ouvir (não se distrair, prestar atenção no outro). Ademais, a modernidade constatou que quanto mais tempo qualitativo é dedicado à comunicação, mais eficiente se faz a conexão, mais cada um conhece o outro, mais há cooperação, mais a memória abastece a continuidade, mais se obtém a veracidade humana sobre dados e fatos importantes.

Porque a conexão médico-paciente subentende metas interligadas, é de se prever que a má comunicação desde qualquer lado – ou de ambos – produza mau planejamento sobre formas como a tecnociência aplicada cabem nas individualidades, o que representa reforço contemporâneo da velha lição que existem doentes, não doenças, atualmente mais inteligível como focar na pessoa do doente conta tanto quanto debruçar-se na doença. Por isso, é oportuno grafar a conexão médico-paciente como conexão médico⇔paciente.

COMPARTILHE JÁ

Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no LinkedIn
Compartilhar no Telegram
Compartilhar no WhatsApp
Compartilhar no E-mail

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS SIMILARES

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts

fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts
set0 Posts
out0 Posts
nov0 Posts
dez0 Posts
jan0 Posts
fev0 Posts
mar0 Posts
abr0 Posts
maio0 Posts
jun0 Posts
jul0 Posts
ago0 Posts