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1637- Autonomia e heteronomia no ecossistema da beira do leito (Parte 3)

O mito de Adão e Eva distinguiu a desobediência como condição para o ser humano tomar consciência de si mesmo, capacitar-se para fazer escolhas entre o bem e o mal, habilitar-se a se tornar um indivíduo livre. Haverá na estrutura social contemporânea espaço para admissíveis justificativas de não obediência a uma autoridade no campo do Direito e da Medicina induzidas por confrontos, choques frontais inclusive, entre verdades da lei e da tecnociência manejadas por mentes e mãos seguras de juízes e médicos e o valor do desejo de réus e doentes? Pode o desejo pessoal eliminar a verdade ou promover um substituto?

A volatilidade da condição humana pode livremente manifestar-se em superioridade aos alicerçados conteúdos do Direito e da Medicina? Especialmente considerando que conceitualmente podemos chamar de verdade aquilo que não podemos modificar e que metaforicamente ela é o solo sobre o qual nos colocamos de pé e o céu que se estende acima de nós, e que a evidência racional implica na submissão, conforme nos ensina Hannah Arendt (1906-1975).      

Partimos da premissa ilustrativa que uma ordem de prisão transitada em julgado no Judiciário impõe a internação do apenado em instituição penal obedecendo a um interesse da sociedade, enquanto que uma recomendação médica judiciosamente transitada pela medicina de internação em instituição hospitalar é passível de recusa pelo paciente em consonância com a individualidade do próprio interesse.

Bioamigo, fatos que giram em torno do que pode ser chamado de etiqueta da submissão, de modos comportamentais em ocasiões formais são comuns no cotidiano das realidades da (des)conexão médico-paciente contemporânea que incluem alternâncias entre Eis-me aqui doutor, conecte-me e o paciente fez cair a conexão e ilustram os renovados percalços vivenciados na atualidade do pertencimento profissional ao ecossistema da beira do leito. 

Dentre os inúmeros fatores causais das dificuldades da individuação, do exercício de uma completa autonomia e de se posicionar livre para escolhas a respeito do seu corpo, estão as influências que o ser humano sofre por estar inserido numa sociedade rodeado de pessoas, instituições e tecnologias e pelas decorrências oscilantes das doenças.

Compreender a sua situação de saúde, encontrar conforto no médico e na medicina, ter relacionamento respeitoso com o médico, demais da equipe de saúde e obter respeito do outro pelos valores e julgamentos morais próprios é um conjunto que sofre variações circunstanciais dos níveis atribuídos de importância e sujeita o paciente a momentos de instabilidades da conexão médico-paciente em meio a desafios, dilemas e confrontos.  

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