A validade contemporânea da voz ativa do paciente com possibilidade de contraposição humana ao estado da arte – salvaguarda ao cientificismo e ao tecnicismo – contribui para o médico apreender ao vivo as autenticidades plurais do mundo real dos pacientes e a necessidade de valorizar a virtude da tolerância, aceitar tanto objeções individuais ou coletivas à beneficência demonstrada pela tecnociência, quanto avaliações exageradas individuais e coletivos de maleficência.
O bom para quem? é pergunta tão necessária quanto diversificada na resposta. É clássico que pacientes entendem que o medicamento prescrito é bom para ele até lerem sobre o potencial de adversidades na bula, quando, então, mudam de opinião para mau para ele e dispensam o uso.
Cada paciente, habitualmente um leigo em graus variados em medicina, constrói ao longo da vida suas próprias maneiras de lidar com o que diz respeito à saúde/doença e que se alinham com distintas calibragens ao recomendado pela tecnociência. Ele tem tanto o direito de cidadania de ser atendido – numa conduta validada – quanto a possibilidade de ser contrariado pelo dever do médico – numa ideia destituída de sustentação tecnocientífica, inócua ou mesmo prejudicial.
O médico tem necessariamente que “dar satisfação” de seus atos. Eles passam a constar da biografia do paciente chamada de prontuário. Em termos simples, o que o médico fizer ou não fizer é biográfico, história de vida… e de morte… do paciente. Evidentemente, há o efeito bumerangue do praticado.
Devemos partir da premissa que médicos têm moral ilibada, são profissionais sem mácula, polidos, incorruptíveis. Infelizmente os Conselhos Regionais de Medicina colecionam desvios de atitudes e condenações e o Conselho Federal de Medicina precisa até cassar a licença profissional de alguns deles. Minoria, mas incomoda.