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1619- BeneMale…ficência (Parte 2)

Voltando à resposta Depende sobre a pergunta se o sal dissolve-se na água. É habitual, bioamigo, que quando alguém ouve a pergunta pense na propriedade de um punhado de sal colocado num tanto de água líquida, ou seja, a resposta seria Sim, o cloreto de sódio é capaz de se dissolver no estado mais habitual da água. Se a pergunta fosse se um objeto de plástico se dissolve na água, a resposta imediata seria Não. Ou seja, o Sim admite restrições e o Não pode suscitar curiosidade investigativa sobre uma possibilidade em princípio não existente.

A possibilidade da consecução da beneficência de um método em medicina em benefício é multifatorial com forte participação de circunstâncias. Na analogia do sal com a água, se a água estiver nos estados sólido ou gasoso, não haverá a dissolução, ou seja, se fizermos a analogia da água com o paciente, fica claro que composições biológicas do paciente são influentes, assim como variações de agentes etiopatogênicos como resistência bacteriana ou grau evolutivo da doença. Ademais, mesmo na água líquida, a saturação impede o prosseguimento da dissolução, o que traz à tona o velho chavão que a diferença entre efeito terapêutico e toxicidade de um medicamento está na dose.

Cerca de dois séculos antes de Belmont colocar em evidência a triangulação complexa entre beneficência, não maleficência e autonomia, o inglês William Whitering (1741-1799) soube que  muitas pessoas iam à cidade de Shropshire buscar um chá caseiro para tratar edema, um segredo de uma idosa. Whitering verificou que havia mais de 20 ervas misturadas e conseguiu concluir que o efeito diurético estava ligado à dedaleira (Digitalis purpurea) e, como se tornou clássico, o medicamento digital se tornou um sal  de utilidade e eficácia em cardiologia e necessitado de cuidados prescritivos por sua maleficência.

Considerando, os três princípios da Bioética, a autonomia estava sendo respeitada pois as pessoas desejavam tomar o chá, muito embora, evidentemente, não fosse um consentimento esclarecido – por exemplo que atuava apenas em caos de edema por insuficiência cardíaca- , mas era livre, eventualmente renovável e revogável.  A beneficência e a maleficência da digitalina tornaram-se um exercício de malabarismo prescritivo. De fato,  Whitering criou um método de digitalização que considerava a toxicidade (maleficência) como ponto de referência de obtenção de efeito beneficente, de modo simples, se havia adversidade significava que havia atuação no corpo: “… administro de 1 a 3 grãos deste pó duas vezes ao dia para adultos… quando dado em doses muito altas e repetidas, provoca vômito, diarreia, tontura, visão turva de objetos que se tornam amarelados ou esverdeados… além disto, ocorre aumento da quantidade de urina e diminuição da frequência de pulso para 35/min, havendo casos de convulsão, síncope e morte… dado de maneira menos violenta, estes efeitos são atenuados… deem o remédio até agir nos rins, no estômago, no pulso e no intestino, porém ao primeiro sinal de um destes efeitos…”.

Raciocínios desta natureza que fazem parte da história da medicina, passos reprováveis atualmente, mas que foram essenciais na busca incansável de informações confiáveis para obtenção da excelência, fruto do que a inteligência humana podia suprir na falta de outros recursos. A Bioética da Beira do leito entende que não importa qual seja a interpretação do paciente sobre beneficência e (não)maleficência para si próprio no processo de tomada de decisão, é sempre imperioso que seja permitida e respeitada sua voz ativa sobre ajustes, quer sobre negativas, quer em função de diretivas antecipadas de vontade, quer no modo de atualidade presencial. 

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