Bioamigo, responda rápido, o sal (cloreto de sódio) dissolve-se na água? A resposta não é binária, ou Sim ou Não, é Depende de como se apresentam e interagem. Da mesma forma, um método terapêutico indicado pela medicina baseada em evidências como beneficência para o diagnóstico é útil e eficaz em qualquer paciente? Novamente, a resposta não é um binário Sim ou Não cravado, mas Depende.
O esforço profissional pela excelência é o que se pretende no ecossistema da beira do leito, porém a realização, caso a caso, qualifica-se como o pretendido ou não somente após a atividade de junção do efetor e do receptor. No processo de tomada de decisão, utiliza-se a memória de estatística de resultados em situações análogas para compor a imaginação do que poderá acontecer pela aplicação, mas é imperfeita qualquer previsão sobre em qual subdivisão do conhecimento estatístico – numa calibragem entre sucesso e fracasso – e aquele caso específico se enquadrará.
Suponhamos uma inovação farmacêutica que se conclui pela pesquisa clínica bem qualificada que é superior (82% de atingir o objetivo terapêutico) em relação à droga até então disponível (63% de sucesso), inclusive com algumas vantagens sobre órgãos-alvo. Num raciocínio simples, em cada 100 pacientes tratados, haverá 19 bons resultados a mais. Entretanto, pressupõe-se que haverá pacientes que não se beneficiarão, haja vista que a conclusão da pesquisa não foi de 100%. Habitualmente, mesmo uma análise crítica detalhada do caso não dá segurança sobre em qual subdivisão de resultado, se revelará o caso em atendimento.
Em outras palavras, uma coisa é beneficência, utilidade, eficácia, outra coisa é benefício, útil e eficaz. Evidentemente, selecionar o método pela beneficência é mandatório, mas biologia e matemática têm várias divergências. Acresce que inexiste beneficência isenta de risco de maleficência, inclusive em efeitos de superação da beneficência e, da mesma forma, somente após o uso que se saberá do quanto o potencial de malefício realizou-se de verdade.
De modo simplificado, toda aplicação de um método em medicina associa-se a uma relação de risco de adversidade/nível de benefício que até há poucas décadas era de exclusiva avaliação decisória pelo médico e ganhou a participação da voz ativa do paciente alinhada ao respeito ao seu direito à autonomia, ou seja, não basta o médico determinar a conduta recomendável/aplicável, é imperioso que ela se transforme em conduta consentida pelo paciente.
Assim, cada encontro médico-paciente tem expansões e limitações em função de disponibilidades tecnocientíficas da medicina, competência do médico a respeito de conhecimentos, habilidades e atitudes e de desejos/preferências/objetivos e valores do paciente. A medicina com arte de aplicar ciência.