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1613- Silêncio, hospital!? (Parte 1)

A  medicina conjuga realidades humanas e perenidade do compromisso com a atenção à saúde. Estes dois aspectos fundamentais não correspondem a uma questão de quem veio primeiro qual o dilema do ovo ou a galinha, mas de identidade relacional, ou seja, a identidade do médico depende, para existir, da outra identidade, a do paciente que fornece razões para a existência.

Que é um médico sem paciente? O que é um paciente sem médico? Se uma pessoa passa a ser denominada de paciente, exige-se a representação da medicina. Sem a presença, remota que seja, e sem intercomunicação? A comunicação faz a diferença na qualidade da conexão médico-paciente, sustenta o simbolismo e o valor social, quaisquer que sejam os ambientes em que se constitui e as modalidades de influências bióticas e abióticas. O simples registro inicial do paciente em situações mais tranquilas ou angustiantes é comunicação de altíssima importância no desenvolvimento dos atendimentos, relevância expandida na era digital.

A pluralidade/diversidade dos objetos da comunicação domina diálogos referentes à saúde/doença em meio ao individual e ao coletivo e os decorrentes desdobramentos do dito e do não dito, palavras e vocalizações, bem como do expresso pela linguagem não verbal são essenciais para que o sentido de conexão humana não seja tão somente de uma aposição formal com direitos e deveres organizados pela sociedade, mas corresponda a vínculo (interação humana) entre integridade profissional e vulnerabilidade leiga. Ademais, o modo com que a comunicação é produzida pode vir a influir em resultados tecnocientíficos, tanto por efeito placebo quanto por nocebo, assim desafiando a medicina baseada em evidências.

Comunicação médico-paciente na beira do leito subentende troca de conhecimentos, classicamente sintomas revelados pelo paciente provocam condutas médicas pertinentes, todavia é necessário que a troca de conhecimentos envolva sinceridade e ética. Somente o paciente pode revelar o que sente – eventualmente manifesto por facies-, somente o médico tem formação para planejar e executar condutas úteis e eficazes concernentes. Reforçando, um depende do outro e na contemporaneidade esta conexão tem aspecto relevante na necessidade de haver o consentimento do paciente para o médico prosseguir com base no que o médico esclareceu ao paciente sobre  benefícios e riscos presumidos. Portanto, “muita saliva”, nenhuma cera nos ouvidos e mente atenta e receptiva.

A Bioética da Beira do leito lembra que o ser humano não nasce sabendo falar, ele aprende a língua e desenvolve o diálogo social e profissional. O significado da antiga placa de trânsito Silêncio, hospital apropriado para o seu lado externo não deve ser transposto com o mesmo valor para o lado interno. Muito pelo contrário, agitação e decorrentes sons imperam e devem ser apoiados em muitos setores do hospital contemporâneo.

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