De uma hora para outra, pontas dos dedos viraram tecladistas contumazes. Pacientes passaram a exigir devolutivas diretas dos médicos driblando agendamentos. A beira do leito entrou em efervescência pela sensação de colisão do uso do aplicativo com a escassez de disponibilidade de tempo e pelas muitas dúvidas sobre a perspectiva da confidencialidade. Veio à tona o ditado popular: dizer é prata, calar é ouro para evitar processos por quebra de sigilo profissional.
Surgiu a ponta do iceberg. Era preciso mergulhar em razões para conhecer mais profundamente o tema sem muita chance para pesquisas. Vigilantes da ética médica suscitaram consideráveis alertas de inconveniências da tecnologia com as quais os médicos não poderiam compactuar sob pena de se tornarem infratores da ética: inaceitáveis abusos pelo paciente, revelações indevidas e substituições do presencial. Uma primeira impressão de tsunami na zona de conforto!
Aflorou o defensivo corporativista. Fator de peso no confronto da tradição com a inovação foi a substituição da linguagem falada pela linguagem escrita na comunicação via WhatsApp. Mudou-se o timing de breve efeito da revelação oral para o de uma documentação sem prazo definido de expiração. A tal da nuvem armazenadora e ameaçadora!
As palavras originais do médico passaram a permanecer na memória tecnológica, muito mais eficiente do que a do paciente que costuma arrefecer com o tempo. O mesmo para uma gravação de voz via aplicativo. Estudos indicam que pessoas mais extrovertidas, ou seja, as que valorizam mais a conexão com a outra pessoa, preferem falar a digitar.
Ficou clara a comparação: o telefone necessita de duas pessoas ativamente conectadas enquanto que o aplicativo pode ser usado sob a potencialidade da recepção do chamado contato, inclusive em multiplicidade. Com a novidade, em poucos segundos, compõe-se uma mensagem, grava-se uma fala, prepara-se uma foto, encaminha-se e ela chega ao destinatário com um alerta sonoro, ao mesmo tempo em que um símbolo indica recepção e abertura do enviado (mais recentemente).
Basta uma conexão com a internet e o paciente pode ter o médico, literalmente, na palma da mão. Nada de linha ocupada, mentiras sobre ausência, preocupação com rotinas de horários, tudo muito direto e exigível. Assustou, mas balançou em mais de uma direção! Muitas especulações! O entendimento pessoal em conflito potencial com o profissional.