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1586- Útero e Bioética (Parte 1)

Bioamigo, você se lembra de quando esteve no útero?
Alguma vez manifestou gratidão à placenta e ao cordão umbilical pelo
sustento por meses?
Já desejou metaforicamente retornar ao útero em situação de sufoco?

 

 

Há a maternidade e há a maternagem. A maternidade alinha-se à relação consanguínea entre mãe e filho(a). A maternagem refere-se ao vínculo afetivo de atenção às necessidades do recém-nato. Tradicionalmente, a maternagem tem sido relacionada intrinsicamente à maternidade entendida como função natural e instintiva da mulher em correspondência a dar à luz e à amamentação. Modificações expressivas aconteceram nas últimas décadas acerca deste contexto em planos teórico e prático, inclusive com maior difusão e participação pela sociedade.

A Bioética respeite todo ser vivo, como princípio e fim em si mesmo e trate-o, se possível enquanto tal de Jahr, ética da vida, responsabilidade com o equilíbrio e consciência de efeitos de longo prazo da ciência de Potter e principialista de Belmont alinhou-se e beneficiou os vaivéns reflexivos em torno do par maternidade/maternagem.

A Bioética contribui para ampliar a reflexão sobre os prós e contras das escolhas relacionadas à maternidade/maternagem, abordando questões de dignidade, liberdade e afetos. A maternidade adequa-se ao conceito que o ser humano é tanto produtor quanto produto de si mesmo, sendo ao mesmo tempo autônomo e dependente do meio ambiente. Ela ilustra o valor das interrelações entre desejos, direitos, normas, interesses e segurança. A maternidade também se alinha com conhecimentos que exigem uma interface com a moral, a ética e o direito. A maternidade representa solidariedade com um outro que é parte de si, sendo essa a base da maternagem.

Derivada do latim “maternitas,atis”, que significa a qualidade de ser mãe, nada mais humano e, ao mesmo tempo, arriscado à desumanidade. Determina desde esperos tranquilos até des-esperos árduos, pautando esperanças em pensamentos e provocando vivências de decepções. Embora não haja originalidade na função em si, existe uma extrema necessidade de proximidade com o que é correto.

Um dia, descobriu-se que as barrigas femininas crescem porque existe um útero dinâmico que abriga um ser humano em desenvolvimento. O momento exato desta descoberta, seja lá como tenha ocorrido, está perdido nos anais da história da humanidade. Entretanto, o exercício da Bioética não pode “esquecer” o impacto de constatações relevantes que, com o tempo, se tornaram banalidades para as gerações subsequentes. Cada camada do conhecimento dá sustentação à que a superpõe e a conservação do seu valor intrínseco no desenvolvimento cultural beneficia a qualidade das fundamentações de reflexões no âmbito da Bioética que objetivam lidar com um singular cuidando para respeitar propósitos universais.

O espírito observador que percebeu a barriga da mulher como abrigo da procriação humana não é distinto do que apoia apreciações críticas de associações entre quero/posso/devo. Elas constituem manancial fértil de temas
complexos que admitem contribuições úteis pela Bioética. Ser capaz e ao mesmo tempo não ser obrigada a gerar descendentes – ou mais um – é fonte de tensão para a mulher. Dilemas pessoais e relacionais resultantes
requerem avaliações sobre vantagens/desvantagens e responsabilidades numa base ou/ou ou se/então de tomada de decisão.

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