Assim acontece na beira do leito após a queixa principal. Os desdobramentos sofrem múltiplas influências das crescentes complexidades tecnocientíficas, dos bens e males incluídos em mesmo método aplicado e das diversidades da condição humana. Teoria e prática relativas à Bioética são acionadas na busca de fio condutor e se influenciam mutuamente, acaso a acaso. Mesmo CID, distintos acasos, condutas desiguais. Interação entre probabilidades a priori e probabilidades a posteriori.
Uma das várias facetas da Bioética que é altamente pedagógica para retratar o nível da qualidade da beira do leito é a que se apresenta reunindo a fidelidade ao conhecimento teórico que imagina e à experiência que ativa a memória prática. É utilidade conjugada e isenta de arrogância, possibilita a prudência na escolha do que é para fazer e do que não é para fazer, à margem de conflitos de interesse, e que massageia a coragem moral e social para sustentar a vontade imperturbável pelo bom profissionalismo perante campos que vira e mexe se revelam (conta)minados, irritantes mesmo, e provocam um possível muito aquém do ideal.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que a teoria bem constituída e conhecida contribui para que a prática não ofereça o que não é do seu domínio e, noutro polo, para que a prática contribua para que a teoria saiba o que é preciso vir a nela caber. Voluntário de pesquisa e paciente são componentes essenciais em equações intercambiáveis desta natureza.
O adolescente que pretende seguir uma profissão em meio a uma coletividade de desejos sonha com o domínio da teoria ou da prática? Há perfis mais ou menos propensos para cada uma das posições, mas creio que a maioria almeja o domínio da prática, como é o caso do futuro médico.
Ele verbaliza que quer ser médico, não que deseja dominar o conhecimento em medicina, não vê a hora de praticar, a teoria virá a reboque deste pensamento, uma inevitabilidade para poder ser o profissional que se tornará.
A concepção da imperiosidade da Residência médica surgida ao final do século XIX (1899, William Halsted, 1852-1922) atestou que o currículo da faculdade carece de fornecer o suporte para a segurança da atuação prática. Coube Aristóteles (384 aC- 322 aC): as coisas que é preciso ter aprendido para fazê-las, é fazendo que aprendemos. Ou melhor, como fazemos é que dá a qualidade do aprender.
Há um círculo vicioso que se torna virtuoso, na medida em que é praticando atos médicos que nos tornamos médicos, não importa a posse do diploma ou até mesmo do número do CRM. O que vale é ter adquirido a competência pelo hábito, pelo despertar do compromisso e pela incorporação de existência antecedente, numa calibragem suficiente para proporcionar respeito e reconhecimento.