Os esperançosos Comitês de Bioética são em número modesto e não aparenta haver tendência a expansões. Reuniões com pautas sobre Bioética costumam produzir discussões produtivas e pareceres fundamentados e de valia institucional. Todavia, os períodos entre reuniões parecem associados à inatividade ou quase sobre a Bioética, os membros de Comitês, evidentemente, priorizam suas atividades profissionais rotineiras. A difusão institucional da Bioética resulta, então, acanhada. Uma inércia de lideranças gestoras fica mantida na ausência de reivindicações pelo maior envolvimento da Bioética em tomadas de decisões em micro e macroambientes.
A Bioética entre nós estaria condenada a um trabalho de Sísifo? Tenho dúvidas. A Bioética alinha-se a uma atividade humilde e está ativa em muitos locais embora sem alarde? Articula-se a um consumo individualizado sem maior difusão e capilarização no exercício profissional? Pode ser. Mas onde estão as evidências? Embutidas no cotidiano dos atendimentos, os qualificando sem etiquetagem?
A Bioética é algo tão intuitivo que seria uma bagagem natural que não requer ênfase como uma disciplina? Terá a Bioética sido imprensada e desvalorizada, dispensável mesmo, por valores que a sociedade contemporânea entende prevalentes? Basta a obediência à Ética fatiada em artigos num Código vigente? Cada um possui a moralidade necessária e bem trabalhada desde a faculdade? Os aspectos legais estão bem conscientizados? O dissenso parece prevalecer em juízos admissibilidades e inadmissibilidades que envolvem profissionais da saúde e influências da transdisciplinaridade.
A Bioética não pode ir à falência, vir a solicitar ser recuperada da sua disposição para uma beneficência prática, com resultados comprovados acerca de temas sensíveis que permeiam a sociedade de modo mais individualizado ou mais coletivo, inclusive influenciando mais explicitamente políticas e contribuindo com subsídios para discussões sobre panoramas em medicina, ciências biológicas e saúde pública tendo como pano de fundo o que poderia ser admitido ou não como eticamente sustentável.
As essências adquiridas da Bioética são indeléveis. Elas estão tatuadas na mente. Pretendo conservá-las e continuar aplicando e divulgando na medida do admissível nas circunstâncias.
Imagino que deve haver muitos militantes em Bioética que desejariam/aceitariam expandir-se de seus pequenos mundos entendendo como oportunidades “fermento” para eles crescerem com a ampliação da “massa”. Quem sabe, uma metáfora de fermento e massa nomeada como Aliança Bioética possa, não somente estimular adesões, como também recuperar o convívio da Bioética por colegas capacitados e com contribuições gratificantes que têm desistindo do envolvimento com a Bioética, não porque a renegaram, mas desestimulados pela desaceleração do que o entusiasmaram um dia. Longe, muito longe, aceitar que a Bioética perdurou entre nós por apenas algumas décadas sem poder criar raízes convincentes.