A Bioética valoriza a transdisciplinaridade, que como o prefixo trans indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Dá voz a distintos conhecimentos além da ciência, como os ligados à arte e à espiritualidade, prestigiando a liberdade de pensamento, a tolerância e a prudência. Lembra que apertar laços corre o risco de terminar em nós (substantivo e pronome).
A Bioética reduz o anonimato ligado tanto aos aspectos morais do anel de Giges quanto a intenções de não sair da zona de conforto ao estimular o compromisso com a exposição de fontes e o comprometimento consciente com decisões. Em decorrência da contraposição á indiferença, a Bioética favorece a busca do equilíbrio nos sentimentos aflorados na conexão médico-paciente em meio a vulnerabilidades, assim ajudando a lidar com expressões de raiva, exageros verborrágicos e violência física e moral.
Em outras palavras, a Bioética concorre para a respeitabilidade, a legitimidade e a autoridade profissionais. Contribui para planejar caminhos sensatos para médico e paciente desde as fases iniciais do atendimento às necessidades de saúde, com responsabilidade sobre ação e inação bem como atalhos que possam redirecionar o rumo de conflitos, dilemas e desafios. Faz aceitar que remédio como termo guarda-chuva não pode dispensar o abrigo à simpatia e ao desejo de ajudar os outros.
De certa forma, a Bioética estimula um estado de “atração por arrumações pelo aprendizado” que favorece adaptações ao que vem pela frente úteis para o desenvolvimento intrapessoal e as relações interpessoais, reforçando que a extensão do conhecimento sobre potencialidades e realizações que qualifica a capacidade de seleção de prós e contras sobre o que deve e o que não deve ser feito é um processo de construção “lápis e borracha” elaborado por meio de interações entre o sujeito – interessado em conhecer – e o objeto – a ser conhecido. A Bioética facilita o médico aperfeiçoar sua atuação de retratista de caso a caso.
Proponho-me à reverência quando observo manifestações favoráveis à Bioética. Acontece que esta deferência tem sido rara por aqui. Quem são os militantes em Bioética? Que pontos de vista defendem sobre temas relevantes? De que maneira se distribuem entre preferências normativas quanto a principialismo (equilíbrio entre os quatro princípios da autonomia, beneficência, não maleficência e equidade), consequencialismo (hierarquia das consequências para a tomada de decisão), ética do cuidado (apoio a relações interpessoais de cuidado e dependência), deontologia (ênfase no respeito aos direitos das pessoas) e virtude ética (ênfase nas virtudes aplicadas)? São mais liberais ou conservadores? Quantos homens? Quantas mulheres? Jovens? Pós-graduados?
Há poucas informações disponíveis sobre individuais estudiosos e dedicados ao desenvolvimento da Bioética brasileira e partícipes de Comitês e Serviços. Um país continental como Brasil com seus regionalismos tem alto potencial de enriquecer o domínio da Bioética, descobrir ângulos específicos, comprometer-se com possibilidades de uma identidade nacional. Parcerias seriam bem-vindas, ganhos para todos.