Interesse por entender causas da negativa do paciente e por repetir e ajustar esclarecimentos, caprichar na comunicação simples e direta e no diálogo aberto a fim de reduzir as incertezas que a vulnerabilidade do estado mórbido traz para o paciente, é comportamento admissível/desejável do médico obediente ao Princípio fundamental II do Código de Ética Médica vigente: O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. A Bioética da Beira do leito lembra que o bom senso orienta o fornecimento de informações e explicações adicionais quando há evidências que determinado paciente requer mais do que o cidadão razoável.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que a aceitação pelo médico da resposta do paciente independe do eventual entendimento que a decisão do paciente não foi racional, desde que considere que tenha sido feita de modo esclarecido, pois objetivos e valores do paciente não devem ser questionados. Aliás, não faltam pacientes que simplesmente renunciam aos esclarecimentos assim expressando um misto de total confiança no médico e resguardo emocional. Subjetividades e objetividades compõem-se modo caleidoscópico.
As iniciativas para real esclarecimento reforçam as conformidades da reversão do Não doutor para Sim doutor, da evolução do Talvez doutor para Sim doutor ou da manutenção do Não doutor com a fundamentação humana ao direito do paciente de usufruir bem amparado pelo princípio da autonomia.
Isto porque a manifestação do paciente passa a ser fruto de mais cuidados com os esclarecimentos em rodadas subsequentes, tanto os gerais quanto os pertinentes àquele paciente, ou seja, sua voz ativa expressa liberdade bem mais integrada do seu interior à situação médica, quanto a desejos, preferências, objetivos e valores. É essencial que o médico aprenda como lidar com o tempo na beira do leito, há emergências e há eletividades com distintos tipos de atuação.
A Bioética da Beira do leito entende que a persistência do médico na manutenção do processo decisório pré-terapêutico motivada pela recepção inicial de Não doutor ou o Talvez doutor na transição da conduta aplicável para a conduta consentida, cabe no conceito de paternalismo na saúde, na variante que se afasta de uma interpretação de autoritarismo no qual a liberdade do paciente resulta diminuída por um excesso de poder do médico.
Sob aspecto etimológico, paternalismo deriva do latim pater (pai), o chefe, a autoridade responsável pelo bem-estar dos membros da família. No campo da saúde, paternalismo foi associado à superproteção pelo médico e restrição de direitos do paciente de direcionar a própria vida.