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1562- Maleficência por omissão e autonomia (Parte 5)

O processo de tomada de decisão sobre terapêutica é idealmente assessorado pela influência das virtudes da prudência e da tolerância que  impacta  de modo integrado sobre o tecnocientífico e o direito ao consentimento ou não pelo paciente capaz à recomendação médica.

Havendo o Sim doutor, o sinal verde da conduta consentida  substitui o vermelho ou o amarelo no semáforo ético da beira do leito acionado pela prudência e o avanço se faz com outras responsabilidades decisórias sempre lembrando as participações da instituição de saúde e do sistema de saúde. As combinações duas a duas, três a três, quatro a quatro e todas cinco perfazem 25 combinações possíveis no cotidiano.

São infinitos os cenários clínicos sobre os quais atua o processo de tomada de decisão envolvendo as ciências da saúde. Há doenças, há doentes e há métodos que se entrelaçam em individualidades quais impressões digitais. Cenário habitual da conexão medicina-médico-paciente, são os impactos etiopatogênicos e fisiopatológicos que modificam a  história natural da doença por uma história pós terapêutica. Ele ocorre num ecossistema, o ecossistema da beira do leito, portanto relaciona-se a integrações entre bióticos e abióticos que admitem uma metáfora de caleidoscópio.

Os potenciais  de benefício e de malefício do planejamento são, idealmente, informados e esclarecidos pelo médico e após analisados pelo paciente resulta a manifestação como Sim doutor, Não doutor, Talvez doutor. Subentende-se  que a resposta do paciente considerado capaz reflita a perspectiva do paciente, o bom e verdadeiro para ele, suficientemente sensível às circunstâncias relevantes. No entanto, quando ocorre resposta do paciente julgada pelo médico como não preferível, é oportuno que o médico considere a possibilidade da avaliação leiga mutável e instável. É estímulo para julgar conveniente  um exercício ético, moral e legal de prolongamento do processo de tomada de decisão.

Outro cenário habitual é o do processo de tomada de decisão no decorrer do período de atuação terapêutica, quando o procedimento se faz necessário frente à ocorrência de adversidade evolutiva prevista -antes imaginada, agora conhecida com detalhes- ou imprevista e que pode , conceitualmente, se associar ao mesmo trio Sim doutor, Não doutor, Talvez doutor de manifestação do paciente à recomendação médica. Só que agora, os efeitos em curso da intervenção terapêutica sob responsabilidade profissional tendem a reduzir a visão respeitosa sobre o direito do paciente à autonomia.

Na contemporaneidade da conduta eletiva, no período decisório pré-terapêutico em que nada de concreto está autorizado até o Sim doutor pelo paciente, a anuência pode acontecer como a primeira resposta ou, então, na sucessão de Não doutor ou Talvez doutor. Esta última eventualidade pode resultar de uma iniciativa de extensão do processo decisório pelo médico que rejeita ter uma postura superficial, desinteressada, indiferente mesmo, e entende que o Não doutor  ou o Talvez doutor com tendência ao Não doutor pode ser declaração provisória. Representa um esforço por uma segunda primeira opinião sobre a recomendação pelo médico que tem como uma distinção a passagem qualitativa do tempo que permite reavaliações pelo paciente.

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