Entendeu-se que o médico não somente está naturalmente inserido como circunstante habilitado na autonomia de relação, como também que o divisor entre atuação paternalista moralmente aceitável e inaceitável é o par coerção/proibição. A separação é adjetivada como paternalismo brando – o aceitável – e paternalismo forte – o inaceitável.
A terceira etapa de uma conduta terapêutica que sucede as condutas recomendáveis e aplicáveis é a consentida. A recepção do consentimento pelo médico subentende que o paciente está capaz de tomar decisão, avaliação que habitualmente concentra-se no trio de aspectos cognitivos formado por compreensão do informado, apreciação livre e raciocínio fundamentado, mas que inclui também a capacidade de fazer a comunicação de uma escolha.
Nem sempre fica perceptível se o que o paciente expressa ao médico é exatamente o que pensa e gostaria que acontecesse.Há o paciente que presta atenção ao que o médico explica, dialoga e conclui que não deve correr os riscos para obter o benefício oferecido pela tecnociência e conclui por uma real recusa autônoma sintonizada e há o paciente que não consegue tomar uma decisão, e assim impede o prosseguimento da aplicação porque não verbaliza o Sim doutor.
O peso da responsabilidade de uma negativa ao saber do médico produz desvios de rota, o ramal do Sim doutor é percorrido. Há uma liberdade teórica, mas o paciente não se sente livre na prática.
De certo modo, as tensões que o paciente sofre justificam a aplicação do paternalismo brando acolhedor que não provoca cenário de coerção externa, é cooperação visando a mais adequada percepção das realidades, a valorização da prudência, a virtude sobre o que é para fazer e o que não é para fazer, a superficialização do que no fundo o paciente entende que é o devido.
Não é incorreto considerar que certos fármacos de atuação neuropsíquica causam algo como desequilíbrio entre racional e emocional ou desregulação entre funções cognitivas concorrentes, impulsividade versus contensão. Carregam o potencial de influir na compreensão do recomendado e/ou na conclusão em Sim ou Não, provocar uma confusão no desiderativo referente a próprios valores, mantendo o cognitivo em nível adequado.