O Juramento que o recém-formado brasileiro tradicionalmente faz é ato simbólico sobre a responsabilidade da educação para ser/estar/ficar médico, objeto cultural, “culto” à medicina inserida na natureza, a cada renovação do exercício da medicina pelo nascimento de geração de médicos. A continuidade cultural da medicina serve ao mundo assim como a durabilidade do agente médico serve à vida, o grande usuário que preza o funcional, o possível de atender necessidades.
A beira do leito é uma forma de fazer acontecer a arte de aplicar a ciência no contexto da medicina. A proximidade do médico com esta forma de exercício da medicina tem a ver com a distância da vida pessoal com que enxerga o profissionalismo, uma medida cuja calibragem é modificável com o tempo e que jamais deve ser posta nos extremos.
Hipócrates foi quem que teve a coragem moral de atender ao seu entendimento que o doente deveria “conversar” com uma pessoa. A voz do paciente deveria ser ouvida por outro ser humano que viria a ser denominado de médico. A palavra dita pelo paciente funcionou especialmente para a anamnese e por séculos para um Sim doutor “automático”. Foi a partir do século XX que a possibilidade da voz ativa do paciente como um Não, doutor para uma solicitação de se tornar um voluntário de pesquisa transferiu-se para a beira do leito.
Na Babilônia, na época do rei Nabucodonosor, cerca de um século antes do nascimento de Hipócrates, o doente ficava na praça pública e os transeuntes eram obrigados a conversar com ele e revelar suas eventuais experiências “terapêuticas” com sintomas semelhantes. Esta orientação de Ao persistiram os sintomas o povo deverá ser consultado já revelava a conotação social da medicina, a intuição sobre evidência pela experiência com o mundo real na condução dos males do corpo, o diálogo mesmo leigo como fonte de conhecimento aplicável.
Voz ativa do paciente tornou-se uma conquista da sociedade contemporânea, não exatamente por conta de uma ideia de desconfiança na competência do médico – na pesquisa clínica articulou-se com a dignidade humana-, mas por uma questão de preservação do livre-arbítrio. A transformação da beira do leito num espaço de conexão médico-paciente dialógica firmou o valor da voz ativa do paciente perante um médico com autoridade, mas não autoritário.