Como dito por Isak Dinensen, pseudônimo de Karen Christence, baronesa de Blixen-Finecke (1885-1962), coloque a sua desgraça numa forma de estória e a suportará melhor. Ocorre um efeito de reconciliação com a realidade dos fatos, a verdade da irreversibilidade, a transformação do pesar em lamentos, a emoção e os sentimentos amparados pela razão das palavras. Um dia após o outro leva ao Dia do Juízo de melhor apreciação da recomendação médica.
O Não doutor pode mudar para Sim, doutor por efeito tanto do paternalismo do médico, o brando, que entende causas da negativa e faz reexplicações, quanto de movimentos do paciente determinados por segunda opinião, autonomia de relação, ou simplesmente recuperação do nocaute mental da má notícia. Quem não volta ao útero mediante uma má notícia sobre doença?
A adjetivação do paternalismo em brando e forte reverteu a demonização geral do termo e preservou a tradição acolhedora do médico ao paciente que lhe confere a devida estatura moral na beira do leito. Todo bom médico é paternalista brando, na medida em que concilia os sentidos virtuosos da polidez que respeita os usos, da tolerância que respeita as opiniões, da prudência que respeita a cautela, da boa-fé que respeita a verdade e da simplicidade que rejeita as simulações, as artimanhas e as segundas intenções.
O compromisso ético do médico em bem conduzir o processo decisório não pode excluir subjetividades com que ele aplica a tecnociência ao paciente interligadas ao caráter, personalidade e temperamento e que são modelados pela heteronomia de códigos e normas.
O profissionalismo que aplica a desejada excelência tecnocientífica numa dimensão biológica alinha-se à condição humana – sim, o médico é um ser humano- no ser/estar/ficar médico como um sujeito moral historicamente determinado como filho universal do Pai da medicina, um imortal, condição simbolizada pelo Juramento de Hipócrates.