A Bioética da Beira do leito adverte que o potencial de interferência na vida do paciente pelo médico como parte da estratégia de cuidar da qualidade de vida e do prognóstico de vida deve ser subdividido em aspectos objetivos e subjetivos. O médico conhece medicina – objetivo- e o paciente conhece si mesmo – subjetivo.
A objetividade da medicina que classifica o paciente de acordo com critérios de doenças e categoriza de acordo com o estado na história natural da doença com ou sem influência de tratamentos e prevenções indicados e validados após ser esclarecidos ao paciente, o motiva a analisar as informações em função de pensamentos, emoções, sentimentos e valores.
É essencial que a objetividade do médico contribua para a maior clareza possível na recepção pelo paciente de objetivos, metas e alvos da conduta e assim produza expectativas com realidade. A verbalização, vocalização e linguagem não verbal do médico – a indiscrição da face, seus “músculos falantes”- devem expressar para o paciente algo positivo e necessário, dentro dos limites da tecnociência disponível, confiança na beneficência, na realização do benefício almejado, evitando a ambiguidade que é uma forma de o médico usar um escudo de responsabilidade da medicina defensiva.
A Bioética da Beira do leito chama a atenção para a realidade que o significado literal do que está sendo dito pode não ser exatamente decodificado pelo ouvinte do jeito que se pretendia comunicar, ou seja, há uma gramática e uma pragmática. A noção de semântica incorporada, que o significado não existe independente do falante e do ouvinte, está na fala de Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981) : Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou. Ambos, médico e paciente, justificando a concepção de conexão médico-paciente, devem se esforçar compartilhar perspectivas, apurar a integração entre quantidade e qualidade das palavras, roteiro, objetividade, clareza e relevância, e assim evitar a beira do leito como uma torre de Babel.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que a justaposição médico-paciente com disposição recíproca – o paciente dispõe de sintomas e sinais e o médico de métodos atuantes sobre os mesmos- constitui uma tarefa que se desenvolve com expansões e limitações e atinge um nível de desempenho e expectativas de prazo respeitando o factível. A disposição recíproca possibilita a justaposição da motivação do médico com o interesse do paciente num clima de conjunção de responsabilidades.