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1468- Non nocere imortal (Parte 19)

Bioamigo, cogita-se do potencial de males farmacêuticos acontecerem para pessoas que jamais conheceram os porventura usuários beneficiados, ou seja, o sal farmacêutico que, de fato, teve efeito beneficente para alguém até sem adversidade prossegue no planeta com uma difusa concepção de risco de prejuízos à saúde da população em geral, o que pode ser nomeado como dano colateral. Uma revalorização contemporânea, um eterno retorno ao significado do Non nocere hipocrático, agora sujeito a um inventário global sobre o que a natureza possui de sal farmacêutico pós-uso como primeiro passo para a caracterização da ameaça ao ser humano. 

Dizem que a linguagem e o tempo são nossos limites, que torturamos e que nos torturam. A linguagem funciona como representação do pensamento e do saber, expressão do preenchimento dos sucessivos espaços que criamos para caber os encadeamentos de raciocínio, como um código para a comunicação numa forma de ação interativa. O tempo nos apresenta como algo irreversível e que segundo John Archibald Wheeler (1911-2008) veste um traje diferente para cada papel que desempenha em nosso pensamento.

A Bioética da Beira do leito distingue o tempo cronológico ditado pelo pêndulo de um carrilhão do tempo biológico influenciado pelas artérias e fundamenta-se na vivência clínica que o tempo não existe per si, são os acontecimentos evolutivos que permitem a noção do que se deu no passado, depois do presente e em seguida do que há de vir, ou seja, o tempo é indissociável do repouso e do movimento. Memória e imaginação dão trânsito acelerado para trás e para a frente, assim possibilitando transições por diferentes níveis de realidade. O efeito Orloff – eu sou você amanhã- é um dos exemplos. Interligado ao Non nocere, figura-se como o meu mal será seu mal. Como nada se pode contra a verdade que foi, o traje meu mal ao se despir do presente num piscar de olhos e vestir-se do passado, seu mal terá um traje  futuro irremediavelmente conectado à antecedência.

Eterno retorno é o nome da terceira síntese do tempo como dito por Giles Deleuze (1925-1995), “reaberturas” no decorrer de um tempo global, algo mentalizável como uma flecha de fármaco atirada que vai do virtual (pode vir a ser benéfico ou maléfico) ao real (foi benéfico, foi maléfico) e que sintetiza a participação nos (a)casos clínicos e nos devires evolutivos. Compreende a figura de uma linha como primeira síntese do tempo,  aquilo que se conserva como passado – conclusões de pesquisas que sustentam a indicação beneficente -, a figura de um círculo que representa o presente – como a movimentação clínica do fármaco -, e a figura da espiral que retrata reatualizações de um novo presente vivo – impacto na natureza pós-uso. Temos, então, que o pensamento-cultura que motiva o progresso da farmacologia persiste atraído pela natureza.

A prática médica nos ensina o paradoxo do tempo em que cada instante de um atendimento ao paciente é ao mesmo tempo presente e já passado e conjuga-se a outro paradoxo do tempo em que o real presente é preexistência de futuro, o que nomeamos como evolução natural da doença/prognóstico, sujeito a variantes.

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