A Bioética da Beira do leito preconiza que o médico, como ser gregário que precisa ser, tem que fazer “direitinho” a sua parte, viabilizar rumos inclusive dramáticos da sua missão profissional, e, na medida do possível – o mais extensível- contribuir para o acerto das demais partes, até porque o Princípio XIII do Código de Ética Médica vigente reza que: O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer formas de deterioração do ecossistema, prejudiciais à saúde e à vida.
A Bioética da Beira do leito adverte que desde sempre, mas atualmente mais evidente em função dos efeitos imprevisíveis das redes sociais, o par formado por silêncio e anonimato carrega o paradoxo da prudência (para si) e da indiferença (com os outros). Uma coisa é o silêncio do sigilo profissional e o anonimato que restringe o promocional indevido. Outra coisa é “esconder-se” na vista de todos. Dilemas sobre o que, como, onde e quando se manifestar acontecem diuturnamente, hipóteses em construção mental que estão longe de já sínteses, ávidas por um pingue-pongue intelectual ainda rascunho, geram, não infrequente, antíteses consolidadas com a convicção de um tambor (barulhenta e oca), assim comprometendo o espírito acadêmico da livre expressão de ideias e debates fundamentados, impessoais, sobre prós e contras. A Bioética é um fórum avesso ao inibitório, especialmente quando decorrente da superficialidade de conexão associada à modernidade líquida conforme Zygmunt Bauman (1925-2017).
Já o compromisso com a solidificação das relações humanas fez de Hipócrates (470 aC- 370 aC) um homem-época, definido como alguém possuidor de notável inteligência, caráter e vontade e não fruto de um acidente de posição como homem-momento- o menino holandês que tapou com o dedo o buraco de um dique. Merece o título porque influenciou desenvolvimentos subsequentes numa direção diferente da existente.
Pela bifurcação da história da medicina que ele fez, colocando uma placa de contramão na outra via, virando a chave dos deuses do Olimpo para o humano da cidade, evidentemente não sozinho, essencialmente pelo seu interior que colocou na empreitada e que não deixou de ter fortes oposições pelos que valorizavam a fé nos deuses gregos, Hipócrates foi um precursor da Bioética. Seu legado tem o espírito que só seria nomeado como Bioética tempos depois.
Aliás, a expulsão de Adão e Eva do paraíso, ao caracterizar o nascimento da consciência moral da humanidade já não tem Bioética embutida? A maçã da árvore do bem e do mal como símbolo do despertar do estado consciente, o que desencadeia ansiedade (sobre o futuro) e sentimento de culpa (sobre o passado) no médico na beira do leito, aspectos frequentemente embutidos em demandas a Comitê de Bioética.