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1452- Non nocere imortal (Parte 3)

O ser humano tem ideias sobre conselhos, desejos e o que acontecerá, mas a capacidade de previsão pela inteligência é limitada, salvo em talentos ficcionistas, supostos visionários e teimosos adeptos do dito por Jean Cocteau (1889-1963): Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez. Na busca moderna do possível de previsão, de respostas à pergunta O que é verdadeiro? a contemplação, o êxtase e a revelação cederam à potência da razão, que como se sabe, não faz exigências que sejam contra a natureza. Mudanças incessantes pelo compromisso com a verdade resultaram. Um destaque tem sido na atenção à saúde.

A inércia humana que embota previsões possíveis não pode, contudo, ser desprezada. O desejo por vida longa saudável é passível de ser refreado pelo desejo atrativo do presente, uma preferência que afasta conhecimentos sobre o bem e o mal para a saúde. Por isso, hábitos/vícios fatores de risco para doenças, são persistentes, ouvem mais a própria opinião de momento do que a razão, embora não duvide do que é melhor, arrasta-se para o pior, descuida-se o paciente pela exclusão no presente da imaginação que o médico lhe cobra motivada pelo conhecimento. Já a hipocondria como uma manifestação de protagonismo do corpo numa cultura de excesso é o presente de uma imaginação destituída de um diferente futuro, transtorno de ansiedade de doença onde a verdade médica está mais no que a provoca do que no “afastamento da doença temida”.

A inércia humana pode reproduzir a morte por sede e por fome pela indecisão de vontade do asno de Buridan, que por estar a igual distância da água e do feno não tinha justificativa racional  para escolha. É essencial na análise de vontades  distinguir entre  modo irracional de satisfazer a vontade – quando há um contraditório ao racional – e modo não racional de satisfazer a vontade – quando o predicado racionalidade não se aplica, por exemplo numa escolha aleatória da água ou do feno. Em outras palavras, indecisos podem decidir à margem da racionalidade e o assim decidido não significa eliminação racional da indecisão.

Pensamentos humanos estão em constante reforma, são transferíveis, renováveis, revogáveis, transgressores, questionadores da tradição e motivadores de inovações e cada novidade apresenta uma calibragem nem sempre estável na escala entre boa e má. Na história das doenças, o inteligente deslocamento de animais como bovinos, porcos e cães desde a floresta para o “quintal” quando os bandos caçadores-coletores se assentaram em tribos empreendedoras-transformadoras trouxe a reboque da domesticação visando ao conforto e à praticidade, o sarampo, a tuberculose, a varíola, a gripe e a coqueluche para o ser humano.

Foi somente no século XVII que Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) identificou ao microscópio que o ser humano convive com microrganismos – descobriu também o espermatozoide humano- e foi preciso mais um século para que Edward Jenner (1749-1823) intuísse o que viria ser vacina a partir da benignidade da varíola em ordenhadeiras. Coincidiram com o desenvolvimento na Europa ocidental de uma nova maneira de perceber a natureza por construções e depurações racionais e que determinaram um momento histórico pela presença dominante na cultura da então “filosofia natural” conhecido por revolução científica, embora o uso do termo ciência tenha se iniciado no século XIX.

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