Aristóteles (384 aC-322 aC) nos ensinou que é fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer, a que acrescentaríamos o negativo, ou seja, é não fazendo que se aprende a não fazer o que se deve aprender a não fazer. Portanto, ação e omissão conforme expressos no Art 1º são comportamentos na conexão tecnociência e humanismo influenciados pelo (não)treinamento e pela experiência que sustentam o discernimento.
O médico não está habitualmente treinado para lidar com impedimentos externos a um necessário fazer, embora transite com certa desenvoltura em situações de “dar um tempo” com etiquetagens de observação, pensamento de watching waiting e conduta expectante, em nome da prudência que evita intempestividades. Mas tempo cronológico e tempo biológico têm suas diferenças, não somente perante dor e sofrimento, como também em função do prognóstico, da evolução natural da doença e dos desdobramentos clínicos pós-terapêutica. Perda de oportunidade de beneficência por má decisão é acontecimento moralmente inadmissível na beira do leito.
A prudência enquanto conselheira do que é necessário escolher e do que é necessário evitar e que supõe a incerteza, o risco, o acaso e o desconhecido, este quarteto que aviva William Bart Osler (1911-2001) na beira do leito – medicina é uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidade – é virtude indispensável no processo de tomada de decisão na beira do leito. A sua eficiência preventiva predomina na preservação do futuro ao proteger a moral das intenções demasiado seguras para se preocuparem com as consequências. .
A prudência enquanto fidelidade ao futuro, cautela pelo amanhã incerto, alia-se à ética da responsabilidade pela qual devemos responder não apenas por nossas intenções ou nossos princípios, mas também pelas consequências de nossos atos, tanto quanto possamos prevê-las. Estatísticas sobre o potencial de realização tecnocientífica estão disponíveis, porém a realização é sempre fato futuro e, pelas incertezas, não funciona adequadamente para atitudes relacionadas a como o paciente virá a pensar, sentir e atuar na multiplicidade de possibilidades evolutivas.
O potencial de comportamento imprudente do médico espreita na beira do leito no decorrer da sequência de decisões que se inicia como conduta recomendável pela medicina baseada em evidências e ligada ao princípio da beneficência – “o que a maioria faria” – , prossegue como conduta aplicável que considera o olhar do médico/raciocínio clínico sobre peculiaridades do paciente e ligada ao princípio da não maleficência e à relação risco/benefício e deságua como conduta consentida, a via final altamente valorizada na atualidade e ligada ao respeito ao princípio da autonomia a ser praticado pelo paciente- consentimento ou não à recomendação médica. Sim doutor é Sim à medicina! Não doutor é Não à medicina!