O Poder da Bioética admite um heterônimo Poder da vontade pelo efeito de energização propulsora de reflexões humanistas na beira do leito, solidária com a significação social da medicina. Por isso, o Poder da Bioética é poder integrador e nutrício (pedagógico, diplomático), nada explorador ou manipulador.
Ademais, o Poder da Bioética alinha-se de forma pétrea à observação que o poder é interpessoal, pois se puramente pessoal vira força. No caso do médico, a preservação da autoestima e o amadurecimento profissional fundamentam-se na conexão com o paciente, haja vista, inclusive, que a ética atual considera “violência” profissional a desconsideração da voz ativa do paciente capaz atrelada ao direito ao exercício do princípio da autonomia.
O uso de Poder da Bioética por Comitê de Bioética, o efetor constituído, por ocasião de análises de conflitos médico-paciente da beira do leito, implica na imperiosidade da apreciação do comportamento do paciente face ao pacto com a imparcialidade. Não infrequente, há um sentido de violência por parte do paciente nos conteúdos dos encaminhamentos via médico/Serviço. Torna-se, então, útil para os membros do Comitê de Bioética conhecer um quinteto de níveis ontológicos de poder/comportamento, conforme organizado pelo existencialista Rollo May (1909-1994), quem, com base em sua vivência na Psicologia, afirmava que o ser humano enfrenta constantemente o dilema de ser ao mesmo tempo sujeito e objeto.
O primeiro nível é o Poder de ser – que faz reivindicar, por exemplo o bebê chora para demonstrar fome e base para o ditado popular quem não chora não mama. O segundo nível é a auto afirmação – o “grito” para reconhecimento pelo outro. O terceiro nível é o auto-reconhecimento – uma forma mais forte do que a anterior com potencial para o ataque sob o lema “aqui estou eu, exijo que seja visto”, sem uma movimentação propriamente dita. O quarto nível é a agressividade – mais enérgico, acionado quando há resistências ao auto-reconhecimento e com potencial de movimentos para se apossar do território de domínio do outro. O quinto nível, extremo, é a violência, quando falham o raciocínio e a persuasão e, por exemplo, uma tensão intolerável determina uma totalidade de envolvimento, dissonante, com músculos que ignoram o cérebro, no caso da violência física.