O Poder das redes sociais atingiu recentemente a beira do leito com profunda influência na conexão médico-paciente, para o bem, quando permite orientação para providências em emergência e para o mal quando extrapola os objetivos de boa comunicação, fornece informação sem prover conhecimento. Por isso, as redes sociais admitem dualidade em opinião “firmemente alicerçado numa nuvem”, uma ironia se nuvem empregada no sentido literal de partículas de água em suspensão e uma conotação de sustentabilidade se expressa no sentido figurado dado pela ciência da computação.
Na interface entre Bioética e conflitos da beira do leito, por isso, o Poder das redes sociais é paradoxal no sentido de funcionar tanto como a água que apaga o fogo quanto como os dois componentes da mesma, um combustível e outro comburente. Sob tensão, não se grita mais para o vazio que produz eco exato ao emitido para si mesmo, mas para uma multidão em que cada presença tem o potencial de responder/”ecoar” de uma forma.
No quesito combustível/comburente, as redes sociais criadas para conectar pessoas adquiriram uma vitalidade inimaginável para encontros virtuais com incrível rapidez difusora. O Poder das redes sociais na beira do leito é etiopatogenia de turbulências por prover oportunidades para se conectar a qualquer momento, por qualquer motivo e sem limites geográficos para municiar conhecidos e desconhecidos com informações de observação e/ou interpretação que criam cenários de realidade com unilateralidade de juízos. Ademais, é do Poder das redes sociais emitir “laudos de congelação instantânea”, “pacotes” de narrativas com início, meio e fim em poucas palavras, numa síntese incitante que prende a atenção, coopta o receptor e se encorpa como verdade por um feedback endossante.
David Hume (1711-1776) legou que quando alguém qualifica outra pessoa como praticante de um ilícito, ela está usando uma linguagem que expressa sentimento e espera que toda sua audiência irá com ela compartilhar, um ponto de vista comum a si a aos outros, o que difere de quando chama outro de inimigo/adversário, assim falando uma linguagem de amor a si mesmo, de situações particulares a si mesmo. Em outras palavras, redes sociais têm o dom de recobrir a opinião com uma expressão de poder.
Neste aspecto, as redes sociais podem ser o difusor de reações de revolta do paciente contra o médico porque considera a moléstia um adversário que incorpora o médico como a “voz da doença” que lhe informa os males, as restrições, as mudanças.
Utilizando o legado de Sigmund Freud (1856-1939), as redes sociais funcionam como vitrines para expor a autoridade internalizada do superego que desloca sentimentos internos, como aqueles auto julgadores, no sentido da manifestação de julgamentos do outro com indignação o que, de certa forma, influenciar a moralidade dos seguidores.
O Poder das redes sociais anula intervalos de tempo como filtros que a prudência recomenda entre recepção e emissão de respostas a questões de opinião, dá asas a uma automática indignação “solidária”, não distingue razão e emoção, calca-se em certos estereótipos, julga o texto sem necessariamente compreender o contexto, e reproduz por meio virtual o efeito coletivo exposto por Baruch Spinoza (1632-1677): a turba é terrível quando não teme.