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1429- Questões de temperatura na conexão médico-paciente (Parte 13)

Quando a sociedade era retratada essencialmente como romance ou crônica, inclusive por escritores médicos, os leitores adquiriam conhecimentos sobre médicos em frases como atitude autoritária do grêmio médico, com suas mil e uma proibições pretendendo uma utópica perfeita saúde; prescrever xaropes e purgas, para que o boticário tenha o que vender… sangre-o e se a doença persistir, faça de novo até que acabe com o doente ou com a doença … se  morrer fala que chegou a sua hora; médico a melhor ocupação do mundo porque, faça o bem ou o mal, sempre será pago… quando se equivoca, nenhuma culpa tem, ela será sempre do falecido; quando um médico fala que vai ajudar, purificar o sangue, fortalecer o coração, alongar os anos de vida,  está contando o romance dos remédios…ouça eles falarem: são os mais hábeis no mundo, veja-os agir, são os mais ignorantes entre os homens; na peste os médicos  com seus protetores sobre a boca lutavam nos corpos de outros  contra um inimigo, mas também sucumbiam…  

O médico atualmente é criado/treinado numa “educação pasteurizada” para ter uma visão de beira do leito como local do mais elevado grau de bons relacionamentos humanos, uma companhia que facilitará desenvolver uma carreira promissora com sequentes redescobertas do ofício. É como se fosse a história autorizada para a conversão de um leigo num médico. Mas ela se revela um queijo suíço para a indispensável proteção profissional.

A vivência como delegado do CREMESP e como membro de Comitês de Bioética ensinou-me que contradições existem, imutável não consta do dicionário da beira do leito, que nem sempre a beira do leito está isenta de deformidades de relacionamentos, o doce-amargo inseparável.

Leon Tolstoi

Por isso, tendo com pano de fundo uma analogia a Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira, abertura do livro Anna Karenina escrito por Leon Tolstoi (1828-1910), o médico precisa incorporar/assimilar o quesito atitude ao seu arsenal de prudência tecnocientífica, valorizar a mente treinada, pois a beira do leito admite ocasiões em que ela se torna um mundo pior do que pretendido e a conexão médico-paciente/familiar adquire uma figura de ninho de cobras intra equipe também. Ademais, a histórica auréola de santidade há muito deixou de pairar sobre a cabeça do médico.

Treinar atitudes para bem lidar quando se instala o mau ambiente, e, inclusive evitá-lo é essencial. Faz incorporar espontaneidade na adequação de respostas. Também, coopera para  que o médico não se entusiasme demasiado com tudo que toma forma na cabeça com pretensa beneficência, perspectivas sobre o oposto precisam ser primeiro avaliadas (razão do Non nocere hipocrático). De alguma forma denota não somente humildade, o esforço para se afastar das ilusões que porventura tenha sobre si mesmo, como também simplicidade, desprendimento para acolher o que ocorre, sem segundas intenções.

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