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1427- Questões de temperatura na conexão médico-paciente (Parte 11)

Silêncio e espera podem ser tão conectores quanto falas e movimentos. A educação pelo material acumulado no álbum de figurinhas coopera para que uma calibragem dos amortecedores que surgem para reduzir os impactos/atritos perturbadores/insuportáveis, as emoções desagradáveis. O efeito é impedir  que o médico, em nome de uma falsa tranquilidade, minta para si mesmo e desdiga um devido pensamento numa concessão indevida.
É essencial que haja uma fusão da pessoa do médico com o contexto do conflito num nível de identificação com objetivos do atendimento que vai além da formação tecnocientífica, inclusive pela necessidade de adaptação a novos tempos, cada vez mais renovados. Consciência sobre o conhecimento validado e receptividade da existência como ela se manifesta. Nem sempre podemos ser o que desejamos ou somos o que pensamos ser, o que pode ter consequências desastrosas quando o médico enfrenta adversidades na beira do leito, por exemplo, ver-se numa corda bamba sem a rede de proteção do treinamento.
Toda beira do leito exige necessariamente uma acomodação mútua e a temperatura em seu sentido figurado de estado de atividade é tanto causa (excesso de frieza profissional) quanto consequência (“esquentou o tempo”) de desacomodações. Nenhum médico passa incólume ao caminho profissional e, certamente, uma suportação de faquir ou de  monge, um domínio excepcional sobre corpo e mente que possa durar mais do que momento, perdeu qualquer efeito tido como positivo da renúncia sobre o desenvolvimento de si mesmo.

Recentemente, a imprensa noticiou que um médico prescreveu medicamentos para uma criança e o último item foi sorvete de chocolate e um determinado jogo, a mãe do paciente contestou e interpretou estas duas “prescrições” como deboche, o médico foi exonerado após a receita ter sido divulgada e repercutido nas redes sociais.

O CRM instaurou sindicância de oficio e a gestão municipal após analisar mais detalhadamente a conduta médica recontratou o médico justificando que houvera prescrição tecnocientífica correta e que o item criticado correspondera à intenção de humanização. Não encontramos mais informações, por exemplo, sobre comportamento do médico no atendimento e evolução clínica do paciente. Presumimos que a “prescrição” sorvete não foi cumprida por um efeito bula.

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