Não há dúvida que o ecossistema da beira do leito se faz cada vez mais propício para expor estas lacunas “térmicas” entre os bióticos em desafios, dilemas e conflitos na conexão médico-paciente, em contextos prospectivos, retrospectivos e interpessoais com destaque no campo da medicina preventiva cuja missão é justamente, atuar num “estado frio” em relação a sintomas para evitar futuro “estado clínico quente”.
Num contexto prospectivo da medicina preventiva na beira do leito, a lacuna “térmica” acontece quando o paciente é instado a predizer um comportamento futuro sobre a saúde que estará sob estado emocional distinto do atual. Um estado afetivo “frio” em relação à saúde (”não sinto nada”) torna a pessoa menos aderente a uma recomendação sobre valor de fármaco ou mudança de hábito visando a preservação da saúde no longo prazo. (Porque devo parar de fumar para evitar um câncer daqui a 50 anos?). Ademais, a “lacuna térmica” embasa críticas sobre o valor antecipatório de uma Diretiva de Vontade.
Num contexto retrospectivo, a lacuna “térmica” ocorre quando, por exemplo, médico ou paciente se lembra – e reprova – de um comportamento passado que estava sob outro estado afetivo (Agora que tudo passou, preciso pedir desculpa pela grosseria de ontem).
Num contexto interpessoal, a lacuna “térmica” se materializa na dificuldade de interpretar comportamentos do outro por não estar – ou nunca tenha estado- no estado afetivo dele (Como é que este paciente não consegue ficar calmo como os demais aguardando sua vez de ser atendido?). Tem muito a ver com o valor da empatia na beira do leito.