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1424- Questões de temperatura na conexão médico-paciente (Parte 8)

Como se sabe, o calor é um dos quatro elementos do universo ao lado de ar, água e terra segundo os gregos antigos e o mito de Prometeu, o titã que roubou o fogo dos deuses para entregar à humanidade e foi severamente castigado por Zeus, admite o significado que a possibilidade do uso do conhecimento (pelos mortais) tanto para o bem quanto para o mal desperta a fúria (dos deuses). Figurativamente, pode-se pensar que a infração ao salvo do Art.34 por uma eventual “lacuna térmica” médico-paciente desperte uma representação ao CRM para “comer o fígado” do médico como um “castigo” ético.
A pedagogia do oxímoro associado à Psicologia e à temperatura aplica-se a tomadas de decisão de natureza preventiva na beira do leito. Corresponde ao fato de o ser humano não perceber que tendências de preferências e comportamentos estão sendo influenciadas pelo seu estado afetivo. Assim, o hot-to-cold empathy gap associa-se a uma sensação de estabilidade da situação presente – uma raiva incontida que gera uma agressão física sem se dar conta que logo passará mas não as consequências legais – e o cold-to-hot empathy gap associa-se à dificuldade de quando em situação agradável se projetar numa desagradável – minha nossa, o que foi que eu fiz ontem… 

Não há dúvida que o ecossistema da beira do leito se faz cada vez mais propício para expor estas lacunas “térmicas” entre os bióticos em  desafios, dilemas e conflitos na conexão médico-paciente, em contextos prospectivos, retrospectivos e interpessoais com destaque no campo da medicina preventiva cuja missão é justamente, atuar num “estado frio” em relação a sintomas para evitar futuro “estado clínico quente”.

Num contexto prospectivo da medicina preventiva na beira do leito, a lacuna “térmica” acontece quando o paciente é instado a predizer um comportamento futuro sobre a saúde que estará sob estado emocional distinto do atual. Um estado afetivo “frio” em relação à saúde (”não sinto nada”) torna a pessoa menos aderente a uma recomendação sobre valor de fármaco ou mudança de hábito visando a preservação da saúde no longo prazo. (Porque devo parar de fumar para evitar um câncer daqui a 50 anos?). Ademais, a “lacuna térmica” embasa críticas sobre o valor antecipatório de uma Diretiva de Vontade.

Num contexto retrospectivo, a lacuna “térmica” ocorre quando, por exemplo, médico ou paciente se lembra – e reprova – de um comportamento passado que estava sob outro estado afetivo (Agora que tudo passou, preciso pedir desculpa pela grosseria de ontem). 

Num contexto interpessoal, a lacuna “térmica” se materializa na dificuldade de interpretar comportamentos do outro por não estar – ou nunca tenha estado- no estado afetivo dele (Como é que este paciente não consegue ficar calmo como os demais aguardando sua vez de ser atendido?).   Tem muito a ver com o valor da empatia na beira do leito.

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