A cena constrangedora desencadeada pelo “descuido” com a linguagem conscientizou-me sobre o nível de abrangência da interpretação de salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, que vai muito além da discussão clássica sobre sinceridade do médico sobre a conduta em revelações de diagnóstico, prognóstico, riscos e objetivos.
O episódio encaixa-se no dito por Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981): Você pode saber o que disse, mas nunca o que outro escutou. Charles Dickens (1812-1970) compartilhava deste ponto de vista e registrou com humor através do personagem Samuel Pickwick que dizia coisas a que, frequentemente, os outros davam sentido diferente do que ele pretendia.
O incidente do Investir representou uma vacina contra descuidos verbais, contudo, não uma imunização para sempre, pois o que não faltam são infinitas “mutações auditivas”, exigindo incessantes doses de reforço contendo componentes das últimas “cepas conflitogênicas”.
A partir de então, este tipo de perigo das palavras incorporou-se aos ensinamentos então consolidados sobre comunicação médico-paciente, tais como evitar poluir a conexão médico-paciente com termos obscuros que possam fazer supor uma visão mais profunda, com repetição de uma mesma ideia através de palavras diferentes, com adições de opinião com aparente validade mas que não pode ser nem confirmada nem refutada, e com a suposição que todos os pacientes compartilham o mesmo significado que atribuímos às palavras.
Interpretações do dito pelo médico como um bem (não dano) ou um mal (dano) para o paciente na beira do leito requerem descrições dos substratos, ou seja, palavras como bem ou mal não têm existência autônoma, é no uso pela emissão-recepção, que a diferença será apreciável, por exemplo, em relação com regras e valores.arte 6