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1421- Questões de temperatura na conexão médico-paciente (Parte 5)

A Bioética da Beira do leito alerta sobre a necessidade de foco não somente no paciente, mas também no representante, aquele que habitualmente alerta para a possibilidade do dano sob presunção que se trata de alguém de respeito mútuo com p paciente e acolhedor com transparência e confiança. É preciso distinguir, por exemplo, entre papéis de intérprete sobre o potencial de dano da informação e  consentidor ou não de atuação ou não atuação cuja revelação seria danosa em nome do paciente. Ademais, é habitualmente delicado para o médico, sem muita oportunidade para aprofundar-se, assegurar que está diante de uma representação de boa-fé, de fato substituta, que sintetize valores, objetivos, sentimentos, tolerância ao risco, resiliência do paciente em relação à situação atual ou, se, em vez disso, está apenas sendo repetição de informações antigas.

Considerando a incomensurabilidade dos entendimentos leigos e médicos, é de se prever que representantes avaliam o potencial de dano enraizados em sistema complexo de interpretação, não somente com base no estrito efeito do aspecto tecnocientífico, mas também numa visão pessoal do temperamento e da história de vida do paciente, suas próprias observações, sua crença no poder de seu apoio e presença, no nível de otimismo, intuição e fé.  Evidentemente, eles podem diferir de como o médico cada médico formula o conceito de dano, sua força mental para suportar má notícia. 

De modo simples, a preposição salvo indica que o médico precisa saber separar o joio do trigo, embora o artigo não defina exatamente um e outro. Este dever com um componente do ser/estar/ficar do médico ético motiva trazer Bertrand Arthur William Russell (1872-1970) para a beira do leito a fim de dar uma força sobre bem comunicar-se com o paciente: Ensinar como viver sem certeza e sem se paralisar pela hesitação talvez seja a principal coisa que a filosofia na nossa época, pode fazer para os que a estudam e de mãos dadas com Friedrich Nietzsche (1844-1900): Nunca torne igual o que é desigual e com Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527): Todo aquele que desejar sucesso constante tem de mudar sua conduta com o tempo. As orientações deste trio facilitam ao médico cumprir a função da preposição salvo e, assim, gerar a aliviadora locução adverbial a salvo.

A incerteza, a desigualdade e a mudança estão presentes de maneira caleidoscópica quando a conexão médico-paciente expõe más notícias, certos diagnósticos são agressões emocionais naturais. Contudo, a má notícia é também um passo essencial para o prognóstico, para a adesão à conduta indicada. Assim, a má notícia funciona como uma quimioterapia, carrega uma expectativa de beneficência embora com prejuízos, e mais, predispõe a individualíssimas seleções de significado nas palavras que a compuseram.

A primeira vez que a ficha caiu sobre insuspeitado poder danoso da palavra na beira do leito foi quando presenciei a equipe de saúde dizer a um paciente em terminalidade de vida que não iria mais investir no caso dele. Investir foi decodificado pelo ouvinte nitidamente revoltado não no âmbito da futilidade terapêutica, mas da intenção de preservar gastos do sistema.

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