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1417- Questões de temperatura na conexão médico-paciente (Parte 1)

Combinações ainda ignoradas  de observações, significados, necessidades e decisões o esperam. Dar-se-á um encontro humano peculiar em torno da tecnociência que como qualquer um admitirá expansões e limitações da medicina, bem como exposição à ansiedade. Grande parte decorre do fato de diagnósticos que orientam terapêutica e prevenção são substantivos e estar com doença e ficar doente são verbos dinâmicos. 

O encontro – que deve ser na mais fiel acepção de aproximação/acolhimento/relacionamento – é oportunidade além de tudo para uma educação recíproca, ou seja, ambos, médico e paciente precisam estar dispostos a prender um do outro, pois nenhum deles pode assumir responsabilidade de fazer a sua parte sem a informação do outro.

O encontro terá um ser humano-paciente que não é tão somente um portador de queixa clínica e etiquetas de CIDs, ele porta sentimentos, escalas de valores, consciência sobre justo e injusto, influências externas, temores, uma biografia enfim, tudo junto e misturado sob ajustes por impacto da doença. O outro ser humano-médico, por sua vez, porta compromissos com conhecimentos, habilidades, diretrizes clínicas, protocolos/normas institucionais, emoções (sem ser por elas dominado) e código de ética. Aliás, o nosso Código de Ética Médica vigente é o orientador de conduta que não parece despertar entusiasmo do jovem médico para conhecer sua composição em função de inegável responsabilidade profissional com o mesmo. 

É essencial o médico estar ciente dos artigos do Código de Ética Médica porque na dependência da natureza, da intensidade e dos inter-relacionamentos que eclodem do encontro, ele poderá vir a necessitar de pitadas de coragem moral e de criatividade numa calibragem que não ofenda o profissionalismo padrão. O processo diagnóstico, por exemplo, é uma sucessão de encontros e reencontros, mudanças em um deles  provocam outros envolvimentos e no afã do encontro definitivo – o desejável diagnóstico de certeza – não se pode atropelar os valores informados pela ética/moral- embora interpretações possam ser justificadas.

Código de Ética corresponde a uma justaposição entre três planos, o moral que engloba os hábitos sociais, o das normas como orientação de comportamento que visa a realizar um valor (concessão de caráter positivo) e o da ética, estabelecer e justificar de modo racional.

Para dar início a este artigo, pinçamos o Art.34 dentre os mais de 100 constantes no Código de Ética Médica vigente por razões que ficarão claras na sequência do texto.              

O Art. 34 do Código de Ética Médica vigente É vedado ao médico deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal é emblemático para fazer ver ao médico que suas palavras ao serem expostas ao paciente têm a potência de causar bem ou mal. A dualidade na submissão ética traz a preocupação mas como é que vou saber sobre o efeito, paciente por paciente? Há alguma diretriz disponível? Devo fazer ajustes no que não posso dizer ao paciente quando for informar o representante do paciente? 

O que acontece na beira do leito não fica contido exclusivamente entre paredes da conexão médico-paciente guardiães da confidencialidade, portas abertas para forças renovadoras são providenciais porque se trata de vidas de humanos no tabuleiro saúde-doença. O profissionalismo médico cada vez mais exposto à interdependência entre argúcia na resolução de conflitos, capacidade analítica em tecnociência e pensamento crítico acerca de desafios e dilemas do cotidiano. 

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