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1416- Dominação, Bioética e passageiro do ônibus de Clapham (Parte 17)

Considerando que médicos funcionam com certa padronização entre os lados medicina e paciente e pacientes variam muito os ângulos de visão dos lados beneficência e não maleficência – o efeito bula é ilustrativo -, vale dizer, o princípio da autonomia é o que mais frequentemente associa-se a tensões sobre dominância no ecossistema da beira do leito, a Bioética da Beira do leito preconiza que qualquer análise de conflitos da beira do leito por Comitê de Bioética que envolvem comunicação alinhada ao direito do paciente ao princípio da autonomia beneficia-se da mentalização do passageiro do ônibus de Clapham com pontos de embarque e desembarque na beira do leito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O passageiro do ônibus de Clapham refere-se à substituição de um espectador ofensivo por um personagem razoável como estratégia de defesa de um advogado inglês no século XIX. Não é fácil conceituar razoável, cai no âmbito do paradoxo de sorites, entretanto é admissível entender que uma pessoa razoável é qualquer ser humano comum que se comporta como próprio de quem tem bom-senso. O passageiro do ônibus de Clapham trata-se de um homem comum (analogia com leigo em medicina) que viaja para uma área pouco comum de Londres (analogia com a beira do leito). É uma pessoa  considerada razoável, sensato, em meio às demais no ônibus, que embora não seja um especialista (analogia com profissional da saúde), tem algum conhecimento do mundo (analogia com as inter-relações entre  o mundo interior e o exterior do paciente).

O quanto poderá esta pessoa classificada como razoável, ou seja, resumo da razoabilidade, produto do seu ambiente, possuidor de um conjunto de vieses, lidar com as complexidades da tensão entre genuína colaboração e estado de dominância interligada a direitos e a deveres? (analogia com considerar o Termo de Responsabilidade/Termo de Consentimento Livre e Esclarecido como composto para entendimento de faz de conta para uma pessoa razoável). Como  inserir no contexto a realidade de sermos criaturas sencientes, vulneráveis a vieses cognitivos não controlados? Bem como de sermos plurais quanto a experiências de vida, necessidades de momento e modelos mentais de respostas.

Questões sobre dominância na decisão e imparcialidade na proposição aventam aspectos da linguagem e, ipso factu, é passível de provocar equívocos, confusões e mal-entendidos, de modo consciente ou inconsciente no ecossistema da beira do leito, com suscitações de metáforas e eufemismos, bem como causas de longos debates acadêmicos e encaminhamentos judiciais.

Nem sempre é fácil transformar termos médicos em linguagem comum, numa comunicação com transparência tecnocientífica de significados, um desafio com alto ônus para a conexão médico-paciente e que se desdobra em pontos de gatilho de prejuízos nas explicações, fontes de desconexões sobre o que está em jogo na beira do leito, como fins intencionais de condutas mutilantes, justificativas para inevitáveis adversidades intercorrentes aos benefícios e compartilhamentos de  incertezas e preocupações com os desconhecimentos.  É sabido como lacunas de recepção na comunicação são preenchidas por vieses de imaginação e de analogia favorecedores do próprio ponto de vista.  

A Bioética da Beira do leito chama a atenção que o tema da dominância na conexão médico-paciente expande-se pela multiplicidade  frequente de atuação multiprofissional e transdisciplinar sem certeza de idêntica cultura organizacional e, inclusive, tendo em conta a diversidade de situações clínicas e tipos de procedimentos.

A Bioética, ao lidar com distinções de conduta moral no contexto da dominância na conexão médico-paciente, necessita estimular a clareza  na comunicação entre as partes conflitantes a fim de inspirar mais adequada correspondência entre o pensar/sentir/atuar de quem costuma frequentar beiras de leito e de quem não costuma. Mas… sempre há um mas… muitos médicos quando se tornam pacientes se aproximam do comportamento leigo, ocasião pedagógica que costuma resultar na melhor compreensão do “razoável” pensar/atuar/sentir do passageiro do ônibus de Clapham.

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