A Bioética da Beira do leito chama a atenção que um Não do paciente que tem o poder de abalar fortemente a conexão médico-paciente pode acontecer em situações além de um pingue-pongue de solicitação/resposta por Sim ou Não no âmbito do processo clássico de um diagnóstico para fundamentar uma terapêutica e de uma terapêutica para mudar o prognóstico natural da doença.
Um cenário que tem chances de vir a ser dramático é representado por contraposições que, muito embora envolvam o médico como agente efetor da medicina, são dominantes no âmbito da conexão paciente-instituição de saúde- sistema de saúde.
Correspondem a situações referentes a posicionamentos do paciente na estrutura do atendimento, inclusive, aquela que se articula à condição humana que faz cada um enxergar diferente mesma situação, em que desejos do paciente que conflitam com o organizacional do ambiente passam para à pretensão de direitos, numa hierarquização da visão individual sobre a de ordem coletiva e associada ao princípio da equidade (justiça).
Um desdobramento terrível e angustiante deste conflito no âmbito do pertencimento à equipe é o estremecimento da autonomia, o revés da capacidade de o diálogo favorecer conciliações e que transborda para a eclosão da heteronomia, a falência do que foi considerado inadequado desde Belmont e com uma peculiaridade, o visto como indesejado pela ética não é um comportamento autoritário do médico, mas, agora, faz-se pela palavra mandatória do paciente.
O ecossistema da beira do leito tem aprendido desde o desenvolvimento da medicina baseada em evidências/diretrizes clínicas a lidar com momentos de heteronomia e de autonomia no que se refere ao estabelecimento de condutas diagnósticas, terapêuticas e preventivas. Assim, pode-se dizer que há uma harmonia conceitual entre a heteronomia da recomendação de diretrizes sobre o médico – inclui uma liberdade teórica e ao mesmo tempo uma não liberdade prática- e a autonomia do paciente em consentir ou não com ela.