A Bioética da Beira do leito mentaliza a conexão médico-paciente como uma disposição recíproca com escalas de interação. Considerando uma fidelidade de cliente – eu sou seu médico, você é meu paciente/eu sou seu paciente, você é meu médico – a reciprocidade pode ser distanciada com virtualidade (intervalo entre consultas, persistência de intenções), reaproximada com interações intervaladas (notícias pós-consulta, comunicações domiciliares de resultados) e altamente aproximada (durante consulta, procedimento).
A disposição recíproca entre médico e paciente subentende que um ser humano está disposto leigamente a fornecer próprios dados e fatos, sinais e sintomas e que outro ser humano com competência está disposto a captá-los profissionalmente e transformar em matéria-prima para diagnóstico, terapêutica e prevenção.
Aspecto fundamental do conceito de disposição recíproca/justaposição é que, embora os imediatismos possam dominar sua apreciação nos atendimentos, os efeitos tardios são decorrências essenciais, aliás, sábios motivos para a prudência. A fidelidade ao futuro nos processos de tomada de decisão impacta significativamente quer na vida pessoal do paciente – qualidade de vida, sobrevida- em função de prevenções e tratamentos sustentados pelos diagnósticos de agora, quer na vida profissional do médico em função do continuado aprendizado pela “mão na massa” caso a caso.
A Bioética, um fruto colhido na árvore da sensatez em medicina no século XX, semente adubada por séculos e com amadurecimento que se mostra lento, qual o cactos sabra duro por fora, doce por dentro, coopera para o mais adequado aproveitamento da disposição recíproca/justaposição, por exemplo em situações que parecem juntar água e óleo. A contribuição se dá pelo potencial de apoio à forte evidência que doentes manifestam mesmas doenças invariavelmente com diferenças biológicas e/ou comportamentais, o que dá persistência à lição sobre o binômio aquele que aprende e aquele que ensina e que pode, em relação ao ecossistema da beira do leito, ser resumida nas palavras de William Bart Osler (1849-1919) no discurso intitulado Aequanimitas (traduz-se por sensatez)- The Hospital as a College, em 1899: No método de ensino que pode ser chamado de natural, o estudante começa com o paciente, continua com o paciente e termina seus estudos com o paciente, usando livros e aulas como ferramentas, como meios para um fim. O estudante começa, de fato, como um médico, como um observador de máquinas quebradas cuja estrutura e funções usuais lhes são perfeitamente familiares. Ensine-o como observar, dê a ele muitos fatos a serem observados e as lições virão destes mesmos fatos. Para o estudante que está no início, tanto na clínica médica como na cirurgia, é uma regra segura não ensinar sem ter um paciente como texto., pois o melhor ensinamento é aquele veiculado pelo próprio paciente. Toda a arte da medicina está na observação, como fala o velho ditado, mas para educar os olhos para ver, o ouvido para ouvir e o dedo para sentir demora. Iniciar um homem no caminho correto é tudo que podemos fazer. Esperamos muito dos estudantes e tentamos ensiná-los demais. Dai a eles bons métodos e um ponto de vista adequado e todos os demais conhecimentos serão acrescidos conforme sua experiência se acumule.