A Bioética da Beira do leito estimula reflexões sobre autonomia numa plataforma multidimensional que inclui componentes cognitivos, sociais e culturais. A contribuição visa a afastar tendências a açodados Sim ou Não e a aproximar cada caso a integrações mais representativas de seus componentes racionais e emocionais.
É essencial conscientizar que o exercício do direito à autonomia subentende uma calibragem, uma “dose” em cada paciente, por exemplo, numa proporção de moldagem que, não devendo trazer prejuízo ao valor da vontade, admite a incorporação consciente de “ajustes de vontade”, inclusive o não adrede aceitável. É um uso da autonomia ideal e praticamente apartado de um binário tudo ou nada.
Há uma perspectiva temporal, em que o fio condutor do respeito à pessoa provoca, comumente, sequências de passos com avanços e recuos (inclui hesitações e interdependências), passagens por pedágios sociais e culturais, o que materializa-se mais raramente como um “puro” processo individual, uma reação absoluta do paciente, totalmente independente de influências de circunstantes, ou seja, um Sim ou um Não tão somente que não transborda da conexão médico-paciente.
A fundamental referência da palavra do médico para encetar a reação do paciente motiva a Bioética da Beira do leito reforçar o valor do Paternalismo, o brando, exercido de modo empático pelo médico em sua missão de ênfase confiável e esclarecedor sobre beneficência/não maleficência/potencial de adversidades. O objetivo é bem qualificar o tecnocientífico como substrato decisório para o leigo.
A organização da mente do médico ético não pode deixar de pretender a homogeneização das vontades de aplicar (pelo médico) e de receber (pelo paciente) a recomendação validada. Contudo diferenças são comuns quando, então, há necessidade de evitar possibilidades de subordinação desconfortável, algo como imposição de uma das partes.n
Não pode ser olvidado que percentual de não consentimentos (um intenso quantum de exercício da autonomia) pode representar articulações com direitos humanos universais influenciadas por quedas de confiança na medicina/quebras de confiança no médico.
O exercício da autonomia iluminado num contexto de respeito à pessoa facilita reconhecer a validade da pluralidade de percepções. No ecossistema da beira do leito, inclui rechaços a isolamentos, indiferenças e intolerâncias a contrapostos.
A prudência do aguardo do consentimento pelo paciente alinha o Sim ao zelo na realização do consentido e o Não a esforços de manutenção da conexão médico-paciente. São as verdades das vontades como imperativos do respeito decisório. Jamais, um aval ao Assine Aqui não esclarecido, nada livre, num burocrático Termo de consentimento, uma representação inaceitável da antiautonomia, do Paternalismo, o forte, a contramão de direção aos objetivos de respeito à pessoa, de humanização na beira do leito.
A Bioética da Beira do leito entende que cada caso tem sua própria forma de autonomia, com maiores ou menores níveis de preenchimento das preferências pela vontade imanente, independente da pessoa e pela afinidade com circunstantes, idealmente de modo confortável, jamais sujeito a coerções.
O aconselhamento na esfera familiar visivelmente isento de conflitos opressivos/restritivos é habitual em nossa cultura e não deve ser entendido como consistente/compatível com o exercício indevido do direito à autonomia, até prova em contrário.