Surgiu o telemóvel acoplado a uma câmera! O desenvolvimento das tecnologias de informação e da comunicação associado a maior disponibilidade da internet mexeu radicalmente com os conceitos tradicionais e experiências sobre onde e quando se dariam interconexões humanas.
Por uma verdadeira incorporação do virtual ao nosso corpo, o nosso “real time” em qualquer local adquiriu a potencial de sobreposição ao ambiente presencial “de consultório”, assim criando uma nova disposição espacial e temporal para o atendimento médico-paciente.
Opiniões sobre maior flexibilidade ética para teleconsulta estiveram contidas pela mentalidade tradicional do dever com o zelo e a prudência pela acurada inspeção, palpação e ausculta.
A sensação de negligência e a auto recriminação de imprudência num cenário de ubiquidade e “deterritorialização” do atendimento dominavam e rechaçavam iniciativas de expansão da teleconsulta. A onda de comunicação criativa via telemóvel ainda podia ser contida no ambiente da medicina e respaldada pelas normas vigentes.
Eis que, de repente, ocorre um “efeito Semmelweiss” (Ignaz Philipp, 1818-1865). O médico – o ambiente de saúde de modo geral – tornou-se fômite. Ficou desejável afastar-se da possibilidade de alojar o SARS-CoV-2.
Arthur Schopenhauer (1788-1860) emplacou mais uma vez: Toda verdade passa por três estágios, primeiro é ridicularizada, depois é violentamente contraposta e, por fim, aceita como autoevidente. A teleconsulta “viralizou”.
Atualmente, podemos dizer que a teleconsulta resultou “endêmica” assim acompanhando a provável evolução da infecção pelo SARS-CoV-2. Esta ocorrência traz para o âmbito da conexão médico-paciente a noção que o espaço da aplicação da medicina não é tão somente um continente biótico e abiótico, mas também uma construção social. A tecnologia da comunicação trouxe, pois, uma reconfiguração nas experiências possíveis no ecossistema da beira do leito, acarretando distinções entre espaço e local.
A Bioética é fórum útil para reflexões sobre as expansões e as limitações do encontro médico-paciente por meio da teledistância com áudio e imagem classificável como ético, vale dizer, saudável para o contexto de ecossistema – da beira do leito- na interdependência que caracteriza a medicina e ciências da saúde em geral.
Alô Bioética! Você me vê!