Atitudes de contestação enquanto antônimo de aceitação com qualidade argumentativa, não apenas reivindicações de desejos destituídas de razoabilidade de direito, “puro ego”, são negativas de submissão a uma sensação de opressão que necessitam, sob a perspectiva da Bioética, representar uma consciência crítica sobre a ordem constituída sem, contudo, por o contexto em crise. Não se questiona o dever do plantão médico qualquer que seja o dia, discute-se o direito numa escala. Já a resistência enquanto antônimo de obediência diz respeito a intenções de ruptura que provocam uma crise. Por exemplo, nenhum médico(a) de um Serviço de Obstetrícia aceitar por razões de consciência realizar um aborto em paciente encaminhada via judicial. Envolve questões de “cidadania” na comunidade médica, crença nos seus direitos, disposição para ousadias, conformismo conservador, novas roupagens do velho coleguismo, conflitos de interesse e (ab)usos do poder.
A Bioética da Beira do leito enfatiza que a convivência de médicos(as) sob normatizações do sistema de saúde e de instituição de saúde requerem pactos contínuos, expressões de solidariedade/cooperação, em que as individualidades, solidárias mas concorrentes tenham as oportunidades de, não somente, serem bem esclarecidas quanto a critérios de tomadas de decisão, como também, de manifestarem voz ativa de contraposição. Como dito pelo Prêmio Nobel de Física (1922) Niels Henrik David Bohr (1885-1962): O oposto de uma afirmação correta é uma afirmação falsa, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda. A interação entre verdade científica/dos fatos e admissibilidade moral pode ser uma questão da perspectiva de plantão.
Ser/estar/ficar médico(a) requer renovação permanente para preservação do prestígio profissional. Como filhos universais de Hipócrates, o “Pai da medicina”, médicos(as), geração a geração, herdam tradições e as retocam como estatutos mais ajustáveis à época. Atualmente, o ecossistema da beira do leito testemunha a introdução da inteligência artificial convivendo – por enquanto… – com a inteligência natural. O cérebro eletrônico e sua capacidade de aprendizado em serviço irrompe no ecossistema da beira do leito como um abiótico aprendiz de biótico, na esteira do transumanismo, vale dizer, uma quebra da tradição, uma radical renovação pela institucionalização de um “médico privilegiado” com Residência realizada no Vale do Silício. Médicos(as) de carne e osso que hoje se contrapõem entre si competindo por privilégios tornar-se-ão uma reunião de desprivilegiados? Mas é assunto para depois…