É habitual grupos aspirarem a privilégios, encistarem-se em castelos no ar presos a distorções e manifestarem justificativas, mais palavras do que realidades, entendendo que merecem a preponderância, o benefício/status/posição no ranqueamento, antes mesmo de adquirirem a potência necessária. Interpretam-se com a sensação de superioridade e de legitimidade por direitos, numa desmedida confiança na própria competência. Creem que a posição almejada já é fruto amadurecido do crescimento profissional e não obtê-la seria uma desconsideração a esta crença. Uma forte energia psíquica resulta de eventuais desapontamentos de expectativas favoráveis mais sustentadas por opinião-paixão e menos por convicção-razão e anima agressividades e esperneios, desespero pela reversão das inconveniências.
Já médicos(as) de fato prejudicados por privilégios experimentam impactos negativos sobre o bem-estar pessoal/social/profissional pela introjeção como vítimas de preconceitos e violências, reagem irados, entristecidos, sentem-se indefesos, rebaixados na competência profissional, desmotivados. Por vezes, há apenas um pressentimento, algo abaixo do nível da consciência que não identifica perfeitamente e provoca oscilação de interpretação e dúvidas de questionamento, inclusive flerte com teoria da conspiração. Outras vezes, um pessimismo de resolução retroalimenta uma inércia reativa.
É habitual no ecossistema da beira do leito, um “membro de rebanho” ver-se ao mesmo tempo acima e abaixo dos outros – coexistem e competem, tradicionalmente, estudantes, internos, residentes, assistentes, professores. Devido à hierarquia, cada um lida com uma tensão em função de calibragem “de próprio punho” acerca de fatores que influem no juízo da ocorrência ou não de sentenças de exceção e que incluem níveis de confiança na organização, respeito submissivo a orientadores, dever de lealdade pelo recebido, simpatia aos valores praticados, visão de compromisso com a imparcialidade, tolerância ao disposto regimental.
Idealmente, cada médico(a) deveria confiar na justiça de tomadas de decisão acerca de posições hierárquicas, quer por escolha direta, quer por concurso, contudo, jamais desprezar a possibilidade ameaçadora é sabedoria para manter a antena sempre em pé para captar as ondas etéreas. Ventos mudam… Ventanias surpreendem… Furacões arrasam…