A doença precisa ser compreendida na sua etiopatogenia e o paciente precisa ser entendido na sua mentalidade. Há a ciência, há a educação, há a cultura, há a moralidade da sociedade, há a religião, há o caráter/personalidade/temperamento da pessoa e há as circunstâncias com suas infinitas combinações. Uma manchete de recomendação de diretriz clínica mecenas do estado da arte precisa lidar com as realidades do existe doente, não doença, que embora uma síntese radical, serve de alerta para a preservação que a solidariedade, assim como a justiça, inexiste de modo abstrato.
Neste entendimento pela Bioética da Beira do leito que justiça e solidariedade estão irmanadas no ecossistema da beira do leito, que solidariedade é essencial para a obtenção da justiça, é importante enfatizar que justiça só existe se a fizermos, em conformidade quer ao direito, quer a direitos relacionados a igualdades ou proporções. No ecossistema da beira do leito, desrespeitos aos princípios da beneficência e da não maleficência incluem expressões de injustiça e de falta de solidariedade. Já em relação ao princípio da autonomia, cada situação pode justificar justiça e solidariedade em proporções diferentes. O não consentimento à recomendação médica por parte do paciente entendido como justiça não costuma se acompanhar de atributos de similaridade ou de aceitação de um custo por parte do médico.
O princípio de justiça em termos de Bioética e voltado para uma excelência moral diz respeito à igualdade de oportunidades acerca das necessidades de saúde de cada um, acesso e distribuição dos recursos em função do direito e de direitos e considerando a integração entre beneficência.
A chamada solidariedade epistêmica, com suas conotações de desejável, produtiva e transformativa, é congênita na medicina desde Hipócrates (460 aC-370 aC). Os doentes compartilham suas manifestações e colocam-se à disposição para exames, o que beneficia a si próprio e a outros com doença semelhante, assim construindo o acervo da medicina. Uma interdependência que não deixa de ter seus custos relativos a lacunas de informação, invasão de privacidade, ou seja, jamais isenta do potencial de tensão entre solidariedade e justiça, passíveis de comprometer o sentido de beneficência /não maleficência da solidariedade sistêmica.
A questão do desequilíbrio/assimetria de conhecimento entre médico e paciente é habitualmente ajustada quando há o respeito ao conhecimento do paciente sobre sua própria doença e sobre seus valores de vida, ou seja, a necessidade do médico de reconhecer que ambas fontes de conhecimento são justas, especialmente para o processo de decisão sobre atitudes. O diálogo torna-se fundamental para ajustar – solidariedade e justiça- experiências desde as fontes medicina/médico e valores, objetivos, preferências/doente.
A Bioética da Beira do leito vale-se da solidariedade para enfatizar ao médico que ele é representar o maior conhecedor sobre medicina na conexão médico-paciente não pode deixar de considerar que este saber dependeu de outras conexões análogas onde cada partícipe também teve certos custos no comprometimento recíproco.
Assim, solidariedade como equidade está na base da ciência aberta, do compartilhamento das conclusões de pesquisas clínicas, pelo interesse coletivo, num contexto de captação, tradução e aplicação segundo fundamentos da ética/moral/legal.