É de se cogitar que a definição da valência pela apreciação ética exige o pensamento livre de inibições e a consideração que vaivéns ocorrem habitualmente pela inexistência de respostas simples corretas. Por isso, é capital que o médico respeite a rigidez do caput É vedado ao médico de mais de uma centena de artigos do Código de Ética Médica 2018, contudo resguarde-se numa dimensão moral que requer interpretação do texto tanto por brechas pelo salvo se, quanto admissibilidades da valência de permissão em função de circunstâncias.
Exemplo é uma “congênita” (Belmont) chance de contraposição entre beneficência e autonomia e que no nosso Código de Ética Médica vigente é representada pelo par formado pelos Art.31- É vedado ao médico desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte e Art 32- É vedado ao médico deixar de usar todos os meios disponíveis de promoção de saúde e de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. O não consentimento apropria-se do caput É vedado.
Ser ou não ser, eis a questão é linguagem famosa de William Shakespeare (1564-1616) a respeito de momentos humanos de hesitação que fazem persistir a ambivalência que se aplica ao atual ecossistema da beira do leito, especialmente porque se refere ao desespero e à solidão, como vivenciado por Hamlet, um personagem que, mais do que lidar com opções, carecia de uma decisão com muita responsabilidade. Inevitáveis incertezas das ciências da saúde justificam a sensação do conflito de decisão (ambivalência subjetiva) perante as possibilidades de definir valências favoráveis ou desfavoráveis (ambivalência objetiva) para o que será e o que não será pelas perspectivas das opções apresentadas pelo profissional da saúde.
Acresce que pela inexistência de método beneficente da tecnociência em saúde isento de potencial de adversidade, ambas valências para ser ou não ser requerem não exatamente a eliminação de uma delas, mas uma hierarquização entre as valências para possibilitar a tomada de decisão. Desejar e temer ou desejar sem temer eis questões de ponderação na conexão profissional da saúde-paciente pelas quais a Bioética da Beira do leito se interessa.
Bioamigo, definições estão sujeitas a críticas e, especialmente, quando há múltiplas, expansões são admissíveis. Ambivalência admite mais de uma definição: estado psicológico em que a pessoa tem sentimentos opostos (positivo ou negativo) simultaneamente sobre mesmo objeto psicológico; crenças distintamente avaliadas; reações que incluem atitudes ao mesmo tempo favoráveis e desfavoráveis; inclinação para avaliações positivas ou negativas simultaneamente. Todas compartilham um constructo da ambivalência com coexistência de valências positivas e negativas, ambas com possibilidades de relevância.