A Bioética da Beira do leito lembra que em hospitais de ensino associados a faculdades de medicina pode-se mentalizar a presença de um um pêndulo no processo de tomada de decisão com excelência que oscila energizado por razões práticas – ligadas à rotina- e por razões especulativas – ligadas a transpor limites. Exemplo é a proposição a um paciente para atribuir uma valência favorável ou desfavorável a participar como voluntário de uma pesquisa randomizada.
Considerando que há um timing em que as opções ainda oscilam, ou seja, guardam indefinição da valência benéfica, maléfica ou indiferente pelas dúvidas das conveniências de uso, é válido propor que o processo de tomada de decisão no ecossistema da beira do leito é um trânsito por momentos de construção e desconstrução de ambivalências, ou seja, seleção de valências de utilidade e de eficácia e consequente eliminação das ambivalências.
Portar-se com prudência e com zelo sobre subjetividades e objetividades de valências é um dever – tão importante que o artigo do Código de Ética Médica que a eles se refere passou de número 29 a Art. 1º, a partir de 2009. A disposição deontológica precisa, acima de tudo, ser energizada pelo desejo – e potência- de estar um profissional consciente de suas peculiaridades na área da saúde. Ao contrário de muitos desejos do cotidiano, este não se abole com as satisfações, ao contrário, renova-se – a potência também- a cada atendimento, admitindo termos como maturidade, experiência e entusiasmo profissional.
Evidentemente, para vingar, a retroalimentação que vem das “profundezas” (vocação?) requer contar com realidades externas como boas condições de trabalho e realidades internas como aprimorar continuamente os conhecimentos, como, aliás, registradas no código de ética dos médicos. Infelizmente, o pouco interesse pelo conhecimento sobre o conteúdo do Código de Ética Médica – e aplicável também a outros profissionais da saúde-, talvez por não chamar Diretriz, desemboca em atritos prejudiciais à fluidez tecnocientífica.
Pegando carona em Baruch Spinoza (1632-1677), ser/estar/ficar correto profissional da saúde, por mais indeterminações que o adjetivo possa gerar, corresponde a um esforço de perseverança, a um continuum voluntário de aprimoramento, a aumento da potência profissional em busca da excelência numa área onde sombras do mal ocorrem na iluminação pelo bem. A Bioética da Beira do leito considera este comprometimento como o retrato da Residência nas várias profissões em saúde, onde constructos de valências são edificados.
Excelência com valências é termo que satisfaz dado que a perfeição inexiste. Como dito por Salvador Dali (1904-1989) não tema a perfeição, você jamais a alcançará. O desafio da contemporaneidade do exercício profissional no ecossistema da beira do leito em conjugar excelência tecnocientífica com alto teor humano tem forte participação da metamorfose de casos clínicos estão cada vez mais (a)casos clínicos (dinâmicos substitutos dos “casos de livro” referências em extinção).
Fator relevante é a superposição de morbidades pelo envelhecimento da população brasileira, e pelas transformações sociais com reflexos éticos, morais e legais. Reforça a sentença Há doentes, não doenças de múltipla paternidade histórica.